A vida de Paulo Eiró, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias

VOLTA A DEUS(20) Nota do Prefaciador

Na aluvião do mundo arrebatado,

Oh lembrança de Deus, não te perdi!

Quando uma luz procuro no passado,

Essa luz vem de ti...



De ti, astro da fé, brando luzeiro

Multiplicado no espumoso mar;

De ti, que em minhas trevas um fagueiro

Raio sabes lançar.



A ti, só, deve o espírito inquieto

Esta sede sem fim de amor e paz,

Estas fundas tristezas sem objeto,

Que só Deus satisfaz.



Se de sonhos formosos se destouca

Minha cabeça ainda juvenil,

Que julgava possível (pobre louca!)

Da vida eterno o abril;



Se do pesar os dentes peçonhentos

(Serpe desta aprazível solidão),

Para perpetuar meus sofrimentos,

Poupam-me o coração,



Sigo, gemendo, na fatal voragem,

Sem à descrença levantar troféus;

Sombras não há, nem pérfida celagem,

Que me encubram os céus.



É lá que o Pai supremo vela e aguarda,

Braços abertos, riso sempre em flor,

O filho errante, que talvez não tarda

Ao convite do amor.



Não te apagues, faísca de esperança!

Aquece-me o engelhado coração,

Que em seu lento pulsar inda balança

Uma tíbia oração.

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