A vida de Paulo Eiró, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias

Um dia, pelos anjos incendida,

Hás de atear um ânimo fiel,

Que, nos exaustos cálices da vida,

Achou somente fel.



Esta orgulhosa inspiração mundana,

Que as crenças infantis veio toldar,

Como nuvem de incenso quando empana

As luzes de um altar,



Há de se esvaecer e o longo encanto

Deste mundo falaz que me seduz;

Contrito e nu, hei de tomar por manto

A penumbra da cruz.



Assim, quando o pampeiro sibilante

Das maretas azuis montanhas faz,

E da ressaca o rolo fumegante

Deixa as ribas atrás,



Alteroso baixel, soltando as velas,

Foge à terra almejada, e, no alto mar,

Onde reina o tumulto das procelas,

Vai, arfando, pairar,



Até que a luta dos bulcões fraqueia,

No céu puro reluz cerúlea cor,

E a vaga, apaziguada, a lisa areia

Oscula, com amor.



O sol brilha maior e esconde os lumes

Em nuvens arraiadas de carmim,

E nos ares, sutis, passam perfumes

De acácias, de jasmim;



Então singra o navio empavesado,

E, quando a noite desenrola o véu,

Lança ferros no porto, alumiado

Pelos faróis do céu!

A vida de Paulo Eiró, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias  - Página 258 - Thumb Visualização
Formato
Texto