A vida de Paulo Eiró, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias

SONETO I(21) Nota do Prefaciador

Ó Gertrudes, apronta logo a ceia!

Não sabes, coisa má, como se aduba

O mocotó, e aquenta-se a jacuba

Que o teu beiço feroz café nomeia?



Bravíssimo! A panela, que hoje estreia,

Chia sobre a tisnada itacuruba;

Cantada serás, negra, em doce tuba,

Que o fogo do apetite o estro me ateia.



Põe na mesa a toalha menos suja,

Despacha-te! Que fome!... E já tamanha,

Que nem verso, nem prosa há que decifre!



Vou mostrar-te, feiíssima coruja,

Quanto é sublime um vate, quando arranha

Prato de estanho com colher de chifre!



SONETO II

Quando, c'os olhos míopes, eu sigo

Esta vida que sempre nos ilude,

Como a dama, ao passar um ataúde,

Tenho ataques de nervos, meu amigo.



Logo ao nascer, arrancam-nos o umbigo;

Depois, a vara inspira-nos virtude,

E, ao amor dedicando a juventude,

Pomos as nossas costas em perigo.



Casamos... que tolice! O ano inteiro

Em inútil suor banha-se a testa,

Que a mulher nos dá cabo do dinheiro.



A velhice mil mágoas nos empresta;

Só do tabaco nos agrada o cheiro;

Chega a morte de foice e... acaba a festa.

A vida de Paulo Eiró, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias  - Página 259 - Thumb Visualização
Formato
Texto