SENSIBILIDADE
Cecém de primavera,
Que, aberta de manhã
Nos claros da tapera,
O orvalho, que a embebera,
Derrama aos pés, louçã;
Assim és, Umbelina,
Quando no rosto teu
Vejo água cristalina
Manar, límpida e fina,
Da fonte que rompeu.
Olhos, que mal obumbram
Pálpebras juvenis,
Com lentidão vislumbram
Lágrimas que ressumbram
De um coração feliz.
São lágrimas douradas,
Sem fezes, sem ardor,
Que as almas fatigadas
Estilam, temperadas
De preces e de amor.
Deixa-me que as engrosse!
Que, para aí chorar,
Do seio tome posse
Que, erguendo-se tão doce,
Baixa sem suspirar!
Assim como num vaso,
Cheio por tua mão,
Se pousa um sopro acaso,
Gotas em curto prazo
Desfiam té o chão;
Essa alma que me deste,
Isenta de aridez,
Se ama, se galas veste,
Orvalha o dom celeste
E os júbilos talvez.