Por outro lado, como as comunidades foram selecionadas tendo-se em vista dois fatores básicos - os diferentes graus de industrialização e urbanização, ao lado da existência de situações polares no que se refere ao coeficiente de negros na população(3) Nota do Autor - torna-se possível a utilização de procedimentos comparativos numa escala ainda não posta em prática nos estudos de relações raciais realizados anteriormente no Brasil.
Neste livro apresentamos os resultados do levantamento realizado em Florianópolis, que até o século passado denominava-se Desterro.
Florianópolis é uma comunidade cuja base econômica manteve-se quase inalterável desde o século passado até nossos dias. Só recentemente (depois da segunda grande guerra) essa situação começou a modificar-se. A história local nos informa que ela tem sido afetada apenas por alterações superficiais e lentas, as quais nos permitem caracterizá-la, ainda hoje, como uma comunidade dominada por uma economia pobre e não muito diferenciada.
É verdade que o regime de trabalho sofreu uma transformação importante: passou-se do trabalho escravo para o trabalho livre. Mas a instalação do regime de trabalho assalariado afetou parcialmente apenas a estrutura econômica da comunidade, mesmo porque a escravidão em Desterro não chegou nunca a ser exclusiva e, depois da introdução dos açorianos, nos meados do século XVIII, não foi nem mesmo predominante. A comunidade sempre foi pobre e nela a produção para a exportação era restrita. Sua economia era, pois, local. Assim é que na atualidade a vida econômica e social de Florianópolis ainda gira principalmente em torno da vida político-administrativa, de um comércio local regional restrito e da produção agrícola da Ilha e de uma pequena faixa litorânea do continente. Encontramo-nos diante de uma comunidade rural-urbana,(4) Nota do Autor isto é, de