História da queda do Império 1º v.

junto à obra não é uma construção, até que se ordena harmoniosamente em seguimento ao plano estabelecido. Este esforço de ordenação é que dá vida ao material inerte, conferindo-lhe uma função que lhe atribui força verdadeiramente original. Esta sensação de riqueza de material e de ordem e disciplina na construção não faltará ao leitor do livro de Heitor Lyra.

Estas qualidades fazem da História da Queda do Império uma obra que nos ensina e enriquece, ainda quando estejamos em divergência com pontos de vista importantes do Autor. Sobre alguns desses pontos de vista fiquei, como leitor, em dúvida, inclusive sobre a questão capital, que é a do caráter inevitável da República. Não desejando alongar demais este prefácio, não farei citações diretas, mas tive a impressão, do conjunto da obra e de numerosas das suas mais de 800 páginas, que Heitor Lyra tende, às vezes, a considerar o advento da República como uma espécie de acaso imprevisto, um pouco no gênero do absurdo irremediável das tragédias gregas. É verdade que, em outros pontos, ele dá impressão contrária, ou seja, parece convencido, menos da fatalidade do nascimento da República do que da fatalidade da morte do Império. Aí é que me parece que o seu julgamento trai o preconceito monarquista, que creio existir no espírito de Heitor Lyra. Como historiador avisado, ele sabe que o Império estava no fim. Mas uma espécie de antirrepublicanismo sensível no seu espírito não o faz aceitar facilmente o aparecimento natural do novo regime. Neste ponto é que, apesar de admirar muito a narrativa honesta e minuciosa de todos os episódios em que Lyra vê o artificialismo do movimento republicano, não me convenci da tese que ele insinua mais do que defende.

O fim do Império não era um fato, mas um processo, que envolvia a concomitância de muitos fatos

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