História da queda do Império 1º v.

contraditórios. A linha geral do processo é que era evolutiva e irreversível. O mesmo, exatamente, se deve dizer do advento da República. Pouco importa, portanto, que os fatos, na aparência superficiais, mostrem a improvisação sem base do movimento, o personalismo do seu desfecho, a relativa facilidade com que aquela crise poderia ser conjurada. Note-se bem, aquela crise. Mas isso não altera a convicção de que a Monarquia estava no fim e, estando no fim, só poderia ser substituída pela República, uma vez que, felizmente para o Brasil, a união nacional estava consolidada. Dizer que a República seria evitada se o Imperador chamasse Saraiva e não Silveira Martins para substituir Ouro Preto, é o mesmo que dizer que a Terceira República não viria, em França, se o conde de Chambord não se obstinasse no caso da bandeira tricolor. A teimosia de um conde de Chambord, de um Pedro II, de um Washington Luís nos últimos momentos dos regimes que encerraram, não é senão um sintoma, entre outros mais importantes, da desagregação geral, do desabamento de velhas estruturas diante do impacto incessante da História. A Terceira República Francesa, cuja vitalidade superou a de qualquer outro regime naquele país, foi um parto muito mais difícil do que a nossa própria República. Basta dizer que, durante cinco anos, ela não se consolidou. No entanto, é evidente que a realidade histórica estava com ela, como veio demonstrar a sua vitória na primeira Grande Guerra. Apenas, os processos da evolução social são demasiado complexos para se identificarem, de perto, logicamente.

Sem deixar de reconhecer, no conjunto, o fim inevitável do Império, Heitor Lyra, quando descreve os pormenores, dá, às vezes, a impressão do contrário. Como que lhe custa aceitar aquilo de que não gosta, ainda no passado.

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