Menos apegado à beleza formal e à emoção da História como arte (seu estilo denota, às vezes, monotonia e frouxidão), dando importância relativa, e em certos pontos nenhuma, à interpretação sociológica e econômica dos acontecimentos (a parte quase nula que reserva aos aspectos econômicos da República surpreende ao leitor já habituado com esta faceta da nossa historiografia), Heitor Lyra move-se, contudo, admiravelmente na exumação, articulação e narração dos fatos. Seu talento é evidentemente este, e aí excede e supera a qualquer outro dos que se ocuparam do assunto antes dele. Extraordinário pela exatidão minuciosa (enganos pequenos como os que salientamos não têm nenhuma importância no caudaloso fluxo do livro), o autor da História da Queda do Império compôs um imenso e colorido mural, no qual a verdade do passado emerge com a força de um romance, de uma peça de teatro, ou de um filme de cinema.
Os fortes sentimentos pessoais do Autor apenas aparecem por debaixo da grande composição: sua ternura pelo Imperador, sua antipatia por Rui Barbosa.
A honestidade intelectual de Heitor Lyra amordaça as manifestações que sentimos por detrás do que ele chega a escrever, quando trata daquelas e outras personagens.
E, para um leitor como eu, habituado a ler também o que não está escrito, acompanhar tais movimentos profundos da alma é uma nova razão de interesse pelo livro.
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Ao termo deste descosido prefácio, escrito às pressas, sob a pressão afetuosa do Autor, depois dos dias tumultuosos que vimos de viver, penso que me serão permitidas algumas palavras de homenagem pessoal ao já glorioso historiador do Segundo Reinado.