Eça e o Brasil

e marchas para o carnaval (musiquinhas não gravadas, nem sabidas do público, mas nem por isso indignas de atenção, como algumas do Faro, batedor de caixinha de fósforos e afinado tenor) e, nos intervalos, estudavam para o ingresso, em prazo curto, nas lutas da profissão. Foi época agitada, com revoluções locais a perturbar a marcha de nossa formação superior (década de 30), mas assim mesmo prosseguimos, brasileiros e cariocas sans peur et sans reproche. Dávamos conta das obrigações estudantis - colamos grau! - e sobrava-nos tempo para fazer literatura, num grêmio que fundamos, em continuação ao do colégio, apenas que, desta vez, com nome mais pomposo - Academia Machado de Assis -, nada menos que este nome, fruto de nossa presunção de futuros doutores, olhos no alto.

Formamo-nos, era fatal. Faro se fez advogado, com êxito na carreira, como vinha sendo prometido por seus dotes de inteligência. Casou-se. Teve um herdeiro de seu nome - Arnaldo da Costa Faro Júnior -, que figura neste livro subscrevendo-lhe a dedicatória, em lugar do pai, a quem a sorte levou de nós. Um filho, e um livro publicado. Perpetuou-se a criatura, na obra a que deu origem.

A notícia de que Faro deixara escrito um livro sobre Eça - livro não definitivamente posto em ordem para publicação, mas arrumável com facilidade, no conjunto de seus capítulos e de suas anotações - não constituiu surpresa para quantos estavam a par de sua predileção por aquele romancista, muito menos para nós, seus amigos de colégio, que sempre estivemos convencidos de não haver no Brasil quem se pudesse dizer tão íntimo de Eça quanta ele. Se alguma coisa era estranhável, por parte de Faro, era o haver tardado tanto em passar para o papel pelo menos um pouco do muito que acumulara de conhecimentos sobre Eça, vida e obra. Só se podia descobrir uma razão para o silêncio prolongado: a busca da perfeição, como se Faro houvesse arraigado, em sua personalidade, o espírito crítico eciano, não apenas no julgar a obra alheia, como no medir os próprios méritos.

O que a mim me tocou fazer, por incumbência da família do velho companheiro, quanto aos originais de Eça e o Brasil, foi trabalho de concatenador da peça manuscrita. Para cada um dos temas em que se dividia o livro, houve tempo de o autor redigir o que havia delineado, de maneira integral, ou apenas necessitando

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