Eça e o Brasil

alguns deles legitimados pelo superveniente matrimônio. A simples insistência com que os biógrafos se referem a "essa moça de Fornos-de-Algodres" ou "uma rapariga de Fornos-de-Algodres" bastaria para indicar que se tratava de pessoa de condição humilde.

Portugal, a esse tempo, profundamente dividido após a libertação do domínio francês, debate-se entre absolutistas e liberais. Mas o momento destes, com os quais devem estar as simpatias de Queirós, ainda não chegara. Por outro lado, em novas terras estará mais abrigado dos comentários que a sua ligação amorosa não deixaria de provocar. Resolve vir com Teodora Joaquina para o Brasil.

Existem no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, onde foram localizados por Pedro Calmon, elementos sobre essa viagem. Lá estão os assentamentos relativos ao passaporte, tirado em 29 de julho de 1817, bem como a petição pela qual foi solicitado, de concisão modelar:

"Senhor. Diz o bacharel Joaquim José de Queirós, natural de Aveiro, de idade de quarenta anos, que pretende ir ao Rio de Janeiro, para o que se acha legitimado pela Intendência Geral de Polícia, como mostra pelo documento junto. Pede a V. M. seja servido mandar-lhe passar seu passaporte. E. R. M."

Tal descoberta permitiu, ainda, reunir elementos para o "retrato falado" de Joaquim José, de quem não nos consta tenha sido publicada a imagem. Eis como o descreveu o passaporte:

"De estatura alta, rosto comprido, bexigoso, e com uma costura na face esquerda e olhos pardos..."

Os autores sempre se tinham limitado a dizer que aqui servira na magistratura. Calmon foi o primeiro, ao que sabemos, a precisar o cargo, não tendo, contudo, indicado a fonte da informação. Havendo desempenhado, em Portugal, as funções de juiz de fora - passo inicial da carreira - Queirós exerceria, no Rio, o posto mais avançado de ouvidor.

Desde o tempo de Filipe II as capitanias do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Vicente eram atendidas por um ouvidor.

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