Eça e o Brasil

Cruz durante grande parte do século XVIII, ensina Felisbelo Freire: e esse era o nome que tinha em 1745, quando nela recebem casa os ouvidores, acrescenta Vieira Fazenda.

Ocupava então o cargo Manuel Amaro Pena de Mesquita Pinto, que foi o primeiro magistrado a residir na casa nova. Seguiu-se-lhe Francisco Antônio Berquó da Silveira Pereira, cuja nomeação é de 1747.

Diante da importância de tais moradores, é natural houvesse a rua mudado de nome, homenageando-os. Talvez tenha contribuído, para que a nova denominação se firmasse, a personalidade marcante, e bem conhecida, do ouvidor Berquó.

Da morada continuaram a usar, e parece mesmo que a abusar, os magistrados seguintes. Melo Morais Filho encontrou requerimento, de 1822, no qual Manuel José Correia de Castro pedia se lhe restituísse "um terreno que possui na Rua do Ouvidor, que há muito tem sido desfrutado pelos ouvidores na casa que lhe fica próxima".

Nem na casa, ou em terrenos vizinhos, se conteve a Justiça. Invadiu a própria rua, que tomou aspectos forenses visíveis.

Era então costume, para melhor localização dos habitantes ou das atividades exercidas, fracionar, segundo estas ou aqueles, a denominação das ruas por esquinas ou quarteirões, dando-lhes a designação de "cantos". Na esquina da Rua do Ouvidor com a Rua do Carmo, por exemplo, era o Canto do Lucas do Couto; e na esquina da mesma Rua do Ouvidor com a Rua da Quitanda - ou Sucussarará - do lado direito de quem vinha das bandas do mar, era o Canto dos Meirinhos, que se estendia ainda pela Rua da Quitanda até a "Rua detrás do Hospício", hoje Buenos Aires.

Nesse Canto dos Meirinhos têm início as Memórias de um sargento de milícias, cuja ação decorre "no tempo do Rei", que é o tempo em que aqui andou o ouvidor Queirós. Manuel Antônio de Almeida descreveu o local, povoado por aqueles serventuários da Justiça de que tomara o nome, gente temida que usava casaca preta, meias e calções da mesma cor, sapatos de fivela, chapéu armado, de dois bicos, e espadim à cinta. Ali, a céu aberto, sentados em pequenos bancos de couro, aguardavam eles a clientela, nessa época "em que a demanda era entre nós um elemento de vida".

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