Eça e o Brasil

debate fora resolvido ceder. D. João assinou decreto mandando adotar a Constituição espanhola.

Voltou a delegação, passada a meia-noite, e encontrou a assembleia deliberando furiosamente. Embriagada de oratória - e também de vinho, que um dos assistentes, Miguel Feliciano de Sousa, fazia vir, com abundância, de seu armazém que era perto, na Rua de São Pedro -, a multidão resolvera sustar a partida de D. João. Nesse sentido seguira ordem para as fortalezas. Sob pena de morte era vedada a saída de qualquer embarcação, desde sumaca até nau grande.

Circulando boatos de que se achava iminente um ataque da tropa à assembleia, foi convocado, para explicações, o general Caula. Este compareceu, garantiu não ter conhecimento do propalado ataque. Foi ainda resolvido exigir a nomeação de alguns elementos para o Ministério, e mais o de uma Junta de Governo, que supervisionaria a regência de D. Pedro. Para se entender com el-rei, despachou-se outra delegação, composta do desembargador Fragoso, do tenente-general Oliveira Barbosa e do coronel Faro.

Em São Cristóvão a notícia desses sucessos convencera mesmo os mais moderados da necessidade de reagir. Era preciso pôr fim àquela assembleia que se tornara comício e agora ameaçava se transformar em revolução. Silvestre Pinheiro veio para a cidade e mandou, pelo governador das Armas, intimar os eleitores a encerrarem os trabalhos. Estes realmente pareciam no fim. Respondeu o ouvidor que tudo estaria concluído em meia hora. Já então vinha rompendo a madrugada e muitos eleitores tinham ido para casa. Fez o mesmo o ministro, acreditando naturalmente haver posto cobro, sem maior violência, às tropelias da assembleia.

D. Pedro, porém, quisera reagir desde a exigência inicial, da Constituição espanhola. Foi acumulando uma noite de raiva. "Parece indubitável - escreve Otávio Tarquínio de Sousa - que as notícias do que se passava na Praça do Comércio e a tibieza do pai e dos ministros tinham produzido em D. Pedro forte irritação. Não era de seu feitio submeter-se ao primeiro arreganho. Prestes a assumir toda a responsabilidade do governo e até ansioso por detê-la em suas mãos inexperientes mas enérgicas, antecipava-se na ação."(1) Nota do Autor

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