Eça e o Brasil

Qual teria sido a responsabilidade de Queirós nos sucessos da Praça do Comércio?

Não faltam, entre os historiadores, críticas à sua atuação. Luís Edmundo,(4) Nota do Autor que comentou os acontecimentos em estilo faceto, ocupou-se bastante do presidente da reunião - de quem refere o cargo de ouvidor, sem mencionar o nome, longe de imaginar que se tratava de um avô do Eça que também admirou - requintando em apresentá-lo como um pobre homem desarvorado perante a multidão, inteiramente dominado por ela. Para ilustrar, contou que havendo o eleitor José da Silva Lisboa pedido licença a Queirós para se ausentar do recinto, a fim de atender a uma necessidade imperiosa e urgente, dele tivera como resposta: "Peça licença ao povo." Na história, contudo, também se poderá ver coragem fria, sarcasmo deliberado contra aquele auditório que, tendo se arrogado o direito de opinar sobre tanta coisa, talvez se julgasse também capacitado para decidir sobre as necessidades indelegáveis do futuro visconde de Cairu...

Melo Morais, tratando o ouvidor como juiz "honrado e limpo de mãos" (o que não era, para a época, pequeno elogio) considerou-o, no entanto, de inteligência medíocre, tudo segundo refere Otávio Tarquínio de Sousa. Este, por sua vez, estabelece a alternativa: ou Queirós "estava em entendimento com os agitadores ou, então, subestimando-os, era um magistrado tocantemente imbuído das mesmas ideias e sôfrego por vê-las em prática".(5) Nota do Autor Cita o seguinte trecho de Silvestre Pinheiro, em uma das "Cartas sobre a Revolução do Brasil": "Fui esta manhã informado de como debaixo da direção do ouvidor da Comarca se faziam subscrições para se construir na Praça do Comércio um tablado e bancadas a fim de se celebrar a junta dos eleitores em público, bem como uma suficiente separação do povo que a esta sessão quiser assistir, e confesso a Vossa Senhoria que estremeci..." Considerara o ministro que o local adequado à reunião seria o consistório da Igreja de São Francisco de Paula, não a Praça do Comércio. E Otávio Tarquínio pergunta: "Na, verdade, para que arquibancadas reservadas ao povo, se já se tinha notícia da exaltação de ânimos

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