Eça e o Brasil

absoluta. Exatamente porque na defesa de tal princípio se excedera, fora D. Miguel, ainda em vida do pai, exilado para Viena. Aí recebeu não só a notícia da morte de D. João VI, como a de ter sido proclamado rei de Portugal o irmão, D. Pedro, paladino liberal da família de Bragança.

D. Pedro condicionara a sua abdicação a que fosse jurada a Carta Constitucional que outorgara, e a que D. Miguel se casasse com a sobrinha, D. Maria da Glória. Assim planejava resolver, a um só tempo, problemas políticos, dinásticos e domésticos.

Mas esses planos, diria Oliveira Martins, "valiam pouco, valiam nada". Isto porque "inspirava-os todos o propósito de conciliar o inconciliável; um passado jesuíta com um desejado futuro liberal".

A divergência tornara-se profunda e definitiva. Portugal inteiro assumira posição. Era-se, irreconciliavelmente, absolutista ou liberal, miguelista ou jacobino.

Os personagens de Eça tomaram partido nessa luta e sublinharam a paixão com que ela se travou.

Caetano da Maia "era um português antigo e fiel que se benzia ao nome de Robespierre e que, na sua apatia de fidalgo beato e doente, tinha um só sentimento vivo - o horror, o ódio ao jacobino, a quem atribuía todos os males, os da Pátria e os seus, desde a perda das colônias até as crises da sua gota. Para extirpar da nação o jacobino, dera ele o seu amor ao Sr. Infante D. Miguel, messias forte e restaurador providencial".

Também Jacinto Galião "amou aquele bom infante como nunca amara, apesar de tão guloso, o seu ventre, e, apesar de tão devoto, o seu Deus".

Afonso da Maia, porém, esse era considerado pelo pai, Caetano da Maia, "o mais feroz Jacobino de Portugal", porque "lera Rousseau, Volney, Helvécio e a Enciclopédia; atirara foguetes de lágrimas à Constituição; fora de chapéu à liberal e alta gravata azul, recitando pelas lojas maçônicas odes abomináveis ao Supremo Arquiteto do Universo"; e, como se tanto não bastasse, misturara-se "à turba que, numa noite de festa cívica e luminárias, tinha apedrejado as vidraças apagadas do Sr. Legado da Áustria, enviado da Santa Aliança".

D. Miguel conformou-se, ou pareceu conformar-se, com os desejos do irmão. Sempre em Viena, jura a Carta, aceita o casamento

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