Pelo próprio filho, ou por outrem, conhecera o Desembargador aquele romance de amor e as consequências que dele haviam resultado. E não se omitiu. Repetidas recomendações ("novamente me recomenda", diz a carta) fizera ao filho sobre o neto que ia nascer, oferecendo-se mesmo para mandar criá-lo. E o filho insiste em saber a resposta para transmiti-la ao pai.
O que move, nesse interesse, o velho revolucionário, o juiz austero, o homem que, ele mesmo, se enredara outrora em um amor ilícito? Primordialmente a noção do dever, não há dúvida. Mas talvez também um pouco da mesma ternura que, em uma fria tarde de dezembro, aquecera o coração de Afonso da Maia, ao ver o neto pela primeira vez...
D. Carolina Augusta, para manter o segredo que as circunstâncias impunham, vai para a casa de um parente, na Póvoa de Varzim. Ali nasce Eça de Queirós, a 25 de novembro de 1845, dia em que se completavam 19 anos, exatamente, que o desembargador fora condenado à morte.
Alternam-se as vitórias dos "cartistas" e as dos "setembristas". Em uma daquelas o Dr. José Maria é demitido. Quando de uma das ascensões setembristas, o desembargador é afastado do cargo por algum tempo.
Em 1847, porém, Saldanha - aquele mesmo general revoltoso que a vitória fizera Marechal e Duque - é o chefe do governo. Verificando-se reforma do gabinete, lembra-se do companheiro dos tempos do Belfast, e o nomeia ministro da Justiça.
Nessa época tumultuosa, em que há revoltosos novos todos os dias, pouca lembrança existe de um conspirador de vinte anos passados. É o que testemunha um contemporâneo, o marquês da Fronteira, nas suas Memórias: - "O Ministro da Justiça, Queirós, era de tanta idade e vivia tão retirado, que todos nós o reputávamos morto." E acrescenta: - "mas o Duque pôde descobri-lo no seu retiro e estava ufano por uma tal aquisição."
É a despedida, a última chamada ao grande palco, e foi tão rápida quanto fora inesperada. Nomeado ministro em 18 de dezembro de 1847, deixa o cargo em 21 de fevereiro do ano seguinte. Volta, desta vez para sempre, à severa casa de Verdemilho.
É geralmente admitido que o pequeno José Maria ali viveu até a morte da avó, D. Teodora Joaquina, em 1855, mas não há