em casa de pouco conforto, quando tinha perto a do avô, ampla, com a avó e tias que dele poderiam cuidar.
É importante lembrar, por isso mesmo, que o velho desembargador, como transmitira o filho na carta a D. Carolina, se oferecera para mandar criar o neto "em companhia da minha família". Compreende-se que, tendo sido escolhida uma ama casada, com um lar a atender, aquele oferecimento não se pudesse concretizar imediatamente. Mas terminado o período de amamentação, não se vê motivo que pudesse impedir fosse a criança para a companhia dos avós. Nem mesmo o da discrição ou o do preconceito, pois, se houvesse lugar para qualquer deles, não teria ocorrido o oferecimento do avô.
Na casa de Vila do Conde, portanto, até os dois, três, ou mesmo quatro anos de idade, viveu o menino, tendo por mãe a ama e madrinha e os filhos desta por companheiros e irmãos. Embalados, todos, pela mesma criatura modesta, com as mesmas cantigas, umas da terra em que vivia e na qual breve iria morrer, e outras - não parece excesso de sentimentalismo supô-lo - do Pernambuco natal, que nunca mais veria.
De bem poucos recursos parece ter sido o lar de Antônio Fernandes do Carmo, homem de tantos ofícios. Quanto a Ana Joaquina, costurando, talvez alugando o seio, tomando conta das crianças, atendendo à cozinha, olhando a casa, o seu único luxo deve ter sido o nome. A mãe e o marido tinham apenas especificações religiosas, a fazerem as vezes de sobrenome. A mãe era "da Conceição", o marido "do Carmo". Ela não, era Leal de Barros, apelido que só podia vir do pai. Mas até nisso há humildade na vida de Ana Joaquina. Tanto o seu luxo em vida, que é o sobrenome, como a lembrança que deixou, que é o seu luxo de morta, ela os recebeu como favor, sem que lhe coubesse título para reclamá-los: um veio do pai que não teve, a outra do filho que não era dela.
Paulo Cavalcanti também pernambucano, face ao sobrenome de Ana Joaquina, escreveu que ela "deve ter tido relações de parentesco com a família Leal de Barros, de Pernambuco, cujo varão foi o comerciante português Joaquim Leal de Barros, chegado a Pernambuco nos primeiros anos do século XIV. Desse Leal de Barros, que enriqueceu vendendo carne de porco aos vapores que atracavam no porto da capital de Pernambuco, nasceu Antônio