O pai carioca
Inocêncio, no Dicionário bibliográfico, deve ter sido o primeiro a consignar, para local e data do nascimento do Dr. José Maria de Almeida Teixeira de Queirós, a cidade do Rio de Janeiro e o ano de 1820.
As duas indicações vieram sendo repetidas, de um modo geral, nas biografias do filho. No entanto, como verificou Pedro Calmon, foram ambas negadas pelo Dr. Teixeira de Queirós, ao se matricular, em fins de 1836, na Universidade de Coimbra. Segundo certidão de batismo que então juntou, passada em 20 de setembro de 1836, teria nascido em Aveiro, a 19 de julho de 1819, e o batismo teria ocorrido a 29 do mesmo mês e ano, na Igreja de São Miguel, sendo batizante o vigário Manuel Maria da Cruz e padrinhos José da Silva Meneses e Maria das Dores.
Calmon, que fez tal descoberta quando se empenhava em apurar, nos arquivos portugueses, os antecedentes brasileiros de Eça de Queirós, não se conformou, apesar do caráter oficial e da riqueza de pormenores, com esses dados que destruíam a versão assente de haver o pai do escritor nascido no Rio de Janeiro. Ocorreu-lhe que se poderia tratar de "uma dessas fraudes inocentes com que, tanta vez, se suprem os documentos que se não encontram". Não resistiu, fez o que normalmente não seria feito, isto é, foi verificar se a certidão certificara certo - e valeu a pena o ceticismo. "Estimulado pela dúvida" - escrevera - "só poderia resolvê-la vendo o livro de batismos da Igreja de São Miguel no ano de 1819 e naquela folha 22 a que pertencia o traslado - e o resultado da pesquisa não tardou em dissipar a pequena mentira. Lá não consta o original copiado; José Maria de Almeida não foi batizado