que se explica pela beleza das "chinas", mulheres mestiças, resultado do cruzamento dos brancos com as índias. As uniões dos brancos com as índias, quer ocasionais, quer permanentes, eram comuns. Era uma necessidade do povoamento, pois havia muita falta de mulheres brancas, como já assinalamos no primeiro capítulo. Um outro fator que não pode ser ignorado é que tal processo de incorporação e absorção dos nativos fazia parte da mentalidade e da política colonial portuguesa. Era a estratégia oficial.
Acreditavam os dirigentes metropolitanos portugueses que assim como os romanos iniciaram a sua expansão com o rapto das sabinas e promoveram, depois, a romanização das regiões conquistadas, estimulando os casamentos dos romanos com as nativas, aqui poderiam fazer o mesmo. Foi assim que procederam na ocupação da Índia com Afonso de Albuquerque, na conquista do planalto de Piratininga, no povoamento de outras áreas da América Portuguesa e, ainda, na conquista e incorporação do território do Rio Grande do Sul ao patrimônio português.
As mulheres nativas, por interesse ou conduzidas a força, encheram de larga descendência de mestiços os primeiros ranchos rio-grandenses. Surgiram assim dois tipos bem caracterizados: o caboclo e a "china". "Um é o herói, o façanhudo autor de mil proezas equestres e guerreiras; a outra, a amorosa e humilde servidora do seu homem"(5). Nota do Autor Parece que, além da ocorrência de uniões espontâneas, chegou-se mesmo a conceder prêmio, um dote especial aos brancos que se casassem com índias.
Referindo-se ao trabalho de integração dos índios da aldeia de Nossa Senhora dos Anjos, dizia o Vice-rei Luís de Vasconcelos: "As índias, porém, para as quais foi fundado o recolhimento, parece igualmente acertado que se hajam de ir casando com portugueses, europeus e americanos que se acham já civilizados e de modo nenhum com os da sua própria nação, fazendo-se-lhes bons todos os privilégios que Sua Majestade tem sido servida fazê-los. Este foi o que praticaram os romanos com as sabinas e com as mais nações que depois foram incluindo ao seu império. Já no ano de 1751 foi lembrada ao governador Gomes Freire de Andrade esta regularidade, de que até o presente não tenho notícia se puseste em execução; também não tenho visto que os privilégios tivessem ocasião de aparecerem francos como se determina; donde é fácil conjecturar-se que sobre esta importantíssima matéria não tem havido aquela eficácia que se requer, e que por isso não há tanta povoação naqueles vastos domínios, como se devia esperar se os fins correspondessem ao menos com que a Real Grandeza de Sua Majestade tem procurado atender a tantos miseráveis.
Mas para que de uma vez se dê toda a providência, que me lembra a este respeito, se faz necessário que se estabeleçam dotes para as índias"