As Minas Gerais e os primórdios do Caraça

Todavia, nem essa, nem outra proposta para uma investigação em arquivos de irmandades, capaz de iluminar a influência tantas vezes absorvente que em todo o Brasil, e singularmente em Minas Gerais, chegaram a exercer as confrarias leigas, pareceram ocupar muito tempo a atenção de José Ferreira Carrato. Logo julgaria invencíveis os obstáculos naturais à realização de qualquer dos dois projetos dentro do prazo relativamente escasso de que dispunha. O trabalho sobre a função social, cultural, econômica das irmandades, que mesmo em tais condições ele ainda podia tentar, apresentava seu inconveniente: o sujeitar-se dificilmente a uma apreensão global e unitária, perdendo o distintivo próprio das teses que, bem ou mal, costumam reclamar certas bancas de concurso. Quanto ao outro assunto sugerido, pareciam mais plausíveis as resistências. Como atacar, em verdade, um tema dessa ordem, antes de contato assíduo e direto com os arquivos de Portugal, pelo menos, e os do Vaticano?

Escrúpulos semelhantes, que em verdade poderiam associar-se a todo trabalho histórico no Brasil, servindo, em alguns casos, de motivos para apurá-lo, em outros, mais frequentes, de pretexto para estorvá-lo ou adiá-lo, só me convenceram pela metade. Em todo caso eram sinal do zelo exigente e da vontade ambiciosa que hão de presidir urna pesquisa digna de tal nome. Por isso acolhi com uma ponta de decepção e, confesso-o, com íntima relutância, o projeto definitivo. Pareceu-me de início uma coisa rala, relativamente fácil, sem perspectivas compatíveis, enfim, com aquele zelo e ambição.

A relutância perdurou em algumas das entrevistas mantidas com o autor, e à medida em que se acumulavam páginas e páginas datilografadas em torno daquela prolixa personagem que é o Hospício de Nossa Senhora Mãe dos Homens da Serra do Caraça. Acentuava-se até

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