As Minas Gerais e os primórdios do Caraça

Esta é, pois, a história dos primórdios do Caraça, a crônica de uma instituição religiosa brasileira, que posta inicialmente como verdadeira tebaida, no alto de uma serra inabordável, para retiro de homens, "desenganados do mundo" oscilante de um ciclo dourado que agonizava, acabou tornando-se uma casa de educação. Uma casa de educação, que é a mais antiga e duradoura de quantas existiram em nosso país. Tal a severa crisálida, que primeiro hiberna e ganha sustento sob a triste capa, para se transfigurar depois na bela borboleta dos dias de primavera, assim é o Caraça.

Mas, neste trabalho, ainda não é a borboleta que nos interessa, mas a crisálida. Antes de ser o colégio, que se tornou famoso no Império e na Primeira República, pelo alto quilate dos homens que forjou para a coletividade de Minas Gerais e do Brasil, o Caraça foi uma casa religiosa, um eremitério. Um "hospício", para usarmos a expressão canônica dos tempos de sua primeira fase de vida.

Vai ser a vida do Hospício de Nossa Senhora Mãe dos Homens da Serra do Caraça — esse é o seu nome todo — o motivo especial deste trabalho historiográfico. No panorama convulso do século I da colonização mineira, que tentaremos esboçar, com todas as suas cambiâncias culturais, políticas, sociais, econômicas e religiosas, iremos colocar a presença diferente e devota de um cenóbio de homens, o primeiro que se estabelece nas terras defesas das Minas Gerais.

Por que essa insólita presença de uma casa religiosa — verdadeiro mosteiro ou "cartuxa" — naquele ambiente de loucura e de pecado, como são as Minas Gerais do século XVIII? Aparece um ermitão, não se sabe donde: é o Irmão Lourenço de Nossa Senhora. Sobe a serra, aquela mesma serra abandonada pelos lavradores de ouro, e lá funda sua ermida. Sob a égide das virtudes da

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