História do pensamento econômico no Brasil

b) O surto inflacionário resultava de uma tentativa de produzir além do permitido pelo pleno emprego. Isso é obviamente impossível. A inflação não tem, portanto, qualquer efeito positivo no sentido da expansão do PIB. Provoca um crescimento nominal e não real. Deve pois ser combatida de forma radical (tratamento de choque).

Subsidiariamente dizia Gudin (apoiando-se sempre no pensamento ortodoxo) que a chamada poupança forçada monetária só poderia existir a curtíssimo prazo. Isso porque os trabalhadores ao reivindicar uma escala móvel de salários impedem a baixa dos seus salários reais, baixa esta que é a essência do mecanismo formador da poupança forçada monetária.

c) Se existe pleno emprego no Brasil (o que é óbvio diante do surto inflacionário), ocorre o pressuposto básico da teoria dos custos comparativos. Assim sendo, apenas seria admissível no Brasil manufaturas cujos altos custos fossem explicáveis em termos do argumento da indústria infante. Mais especialmente: apenas seriam justificáveis aquelas indústrias cujos altos custos desaparecessem a curto prazo. Gudin achava que esse período de graça já havia passado.

Meu raciocínio se baseava todo em modificação relativamente simples do aparelho de análise ortodoxo e que, apesar disso, permitia modificar fundamentalmente as normas de política econômica gudiniana. Sustentei que em países subdesenvolvidos o limite ao desenvolvimento econômico era a plena capacidade (plena ocupação do capital) e não o pleno emprego (plena ocupação da mão-de-obra). Essa modificação me permitiu as seguintes conclusões quanto aos três pontos acima:

a) E perfeitamente possível uma política de eliminação do atraso econômico, visto que através de um aumento da poupança interna, ou obtenção de poupanças externas, o limite básico ao crescimento do PIB pode ser deslocado para cima. O mesmo não podia ser feito no caso do limite dado pelo pleno emprego porque o aumento da natalidade e/ou a imigração permitiriam maior PIB, mas esse deveria ser dividido por maior número de beneficiários. Isso entrava em choque com o objetivo básico do crescimento que é o aumento do produto per capita. Objeção igual inexiste no caso de um aumento de poupança.

b) A inflação significa, sem dúvida alguma, que se atingiu o limite superior ao crescimento do PIB. Se este contudo é, como nos subdesenvolvidos, dado pela plena capacidade, a produção pode continuar crescendo desde que o teto seja deslocado para cima. Mais

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