de altos custos monetários ou reais se justificava, pois, plenamente, mesmo a longo prazo.
Essas eram as divergências fundamentais que se ordenam, dos dois lados, de forma lógica, em função dos modelos teóricos adotados. De minha parte neguei simplesmente um pressuposto do modelo ortodoxo, chegando a conclusões óbvias e que, no entanto, tinham um sabor revolucionário no âmbito dos debates da época. O mais curioso é que os modelos modernos de crescimento (conforme mostrarei num trabalho a sair proximamente) continuam a se inspirar num limite superior tipo keynesiano. Felizmente os fatos deram razão a concepções como as minhas e o Brasil registrou um desenvolvimento inexplicável à luz das teorias correntes de crescimento. O curioso é que isso não perturba em nada a nossa economia ortodoxa, o que mostra o baixo nível da ciência econômica brasileira.
Gostaria de acrescentar duas observações sobre a política anti-inflacionária. Não considero significativa a contribuição do estruturalismo para os debates teóricos. Para a formulação de política, sim, foi importante. Os estruturalistas não chegaram a perceber a linha dos debates travados no Brasil. Para seguir a divisão de Arthur Lewis, em seminário sobre inflação e desenvolvimento realizado no Rio, diria que discutíamos a inflação como mecanismo de desenvolvimento (poupança forçada) e os estruturalistas se preocupavam com a inflação como corolário do desenvolvimento. Não nego, por certo, uma contribuição analítica dos estruturalistas. Procurei explicar como o interpreto na monografia Inflação e desenvolvimento.
A segunda observação refere-se à política gradualista de contenção da inflação. Considero-a uma vitória da heteroxia brasileira. Ela se acha antecipadamente sugerida em um número de dezembro de Desenvolvimento & Conjuntura, publicado especialmente sobre a inflação (dezembro de 1958). As origens históricas são aliás simples: com Miguel Calmon e o grupo da ex-SUMOC, montei um programa gradualista de contenção inflacionária que Celso Furtado, pouco depois, incluía no Plano Trienal. Apenas deixou de lado, por motivos óbvios, a política salarial. Roberto Campos reproduziu praticamente no Plano de Ação a parte financeira do Plano Trienal, incluindo os aspectos salariais. Isto porque:
a) O FMI fora forçado a aceitar o 'gradualismo';
b) Mário Henrique Simonsen, que trabalhava comigo no CNI, conhecia a fundo a linha que eu propusera no número suprarreferido de Desenvolvimento & Conjuntura.