Juntamente com essas condições determinadas pelo ambiente geográfico e pelas técnicas que se utilizam para sua exploração, outros fatores imprimem características bem marcadas a essa região. Dentre esses, destacam-se os que se referem à formação étnica e cultural da população da Amazônia.
O vale era habitado por considerável massa indígena, a que se mesclaram portugueses e um pequeno contingente africano. Dessa amálgama resultou uma cultura regional, em que repontam, com mais intensidade do que em outras regiões brasileiras, as tradições ameríndias.
Entre os aspectos que distinguem a cultura do habitante rural da Amazônia, escolhemos para descrever a vida religiosa. Não apenas pelo que ela possa conter de local, de peculiar à Amazônia, porém, pela função que representa na estrutura dessa sociedade rural.
O material aqui descrito refere-se a dados colhidos em uma pesquisa de campo realizada em Itá, comunidade situada no Baixo Amazonas. Ela se compõe de um núcleo urbano de cerca de 400 pessoas e de freguesias, que convergem para esse centro, cuja população total soma pouco menos de dois mil. As generalizações que tentamos são feitas na base de material comparativo e de nossa própria experiência em outras áreas.
O caboclo de Itá, como da Amazônia em geral, é católico. Não obstante, sua concepção do universo está impregnada de ideias e crenças que derivam do ancestral ameríndio. Essa maneira de ver o mundo não representa o simples produto da amalgamação de duas tradições, a ibérica e a do indígena. Essas duas fontes supriram o material básico de que evolveu a forma contemporânea da religião do caboclo amazônico.