Santos e viagens: um estudo da vida religiosa de Itá, Amazonas

Mesmo uma observação superficial das crenças não católicas do caboclo amazônico é suficiente para permitir identificar-se a maioria dos sobrenaturais "visagentos" e as crenças a eles relacionadas como de origem tupi-guarani. Essa conclusão leva logicamente ao problema de situar a importância cultural dos povos dessa filiação linguística na Amazônia. Entre as muitas sociedades tribais que habitavam o vale, por que os tupis influenciaram tão fortemente a cultura do caboclo?

A ocupação pelos antigos tupis foi compacta no Baixo Amazonas, mas o curso superior e grande número de afluentes eram habitados por tribos de outra filiação linguístico-cultural. Uma resposta ao problema talvez se possa encontrar no processo de aldeamento, posto em prática pelos missionários empenhados na catequese do gentio. A fundação de aldeamentos resultou perderem as sociedades indígenas sua organização tribal. Levas de índios foram transferidas para as aldeias das missões, onde a vida passava a ser regulada por normas estabelecidas pelo missionário e onde se falava e ensinava a "língua-geral", uma forma modificada do tupi-guarani. Essa "língua-geral", usada a princípio quase que exclusivamente pelos missionários e seus índios aldeados, tornou-se em pouco tempo a língua de comércio e o meio de comunicação entre europeus e índios, qualquer que fosse sua língua original. Mamelucos e portugueses a adotaram e dela se serviam como linguagem familiar. O naturalista Bates(7) Nota do Autor, que por aí viajou na década de 1850, observa que em toda a extensão do Amazonas se falava o "geral". Ainda nos dias de hoje, na região do rio Negro, pudemos notar que ela ainda suplanta o uso do português.

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