Santos e viagens: um estudo da vida religiosa de Itá, Amazonas

e das comunidades rurais decresceu e, aumentando o isolamento, o catolicismo tornou-se mais local, menos subordinado ou influenciado pela hierarquia da Igreja. O declínio da "gente de primeira" terá favorecido o ressurgimento das crenças do caboclo. O curador ou o pajé voltaram a atuar com mais liberdade.

Em 1940, inicia-se o período atual. As influências que se fazem sentir ameaçam novamente a organização e integração das crenças. É um período que apenas se inicia, mas sobre o qual se pode presumir que, à medida que se tornarem mais continuadas e mais fortes as influências de fora, especialmente aquelas de natureza tecnológica e científica, diminuirá a importância dessas crenças e de sua integração à vida total do grupo.

A história do desenvolvimento da moderna religião cabocla, como da cultura a que pertence, não é a de um processo uniforme e gradual da difusão de conceitos de nossa civilização ocidental, que teriam se transmitido dos grandes centros urbanos, daí para as sedes das comunidades regionais e destas para as freguesias e sítios. Ao contrário, ao período de mudança acentuada, interpuseram-se outros de relativa estabilidade ou de transformação pouco apreciável. As modificações na cultura regional foram provocadas em grande parte por fatores como a catequese religiosa, a escravização do índio, a política colonial e a corrida da borracha, fatores que tiveram sua origem e foram desencadeados por forças localizadas fora da região amazônica, isto é, na metrópole portuguesa, na capital federal e nos grandes centros internacionais de comércio e indústria. Contudo, a resultante da atuação dessas forças adquiriu características locais, condicionadas pelo ajustamento que se fazia necessário ao ambiente geográfico em função das técnicas utilizadas para sua exploração.

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