Santos e viagens: um estudo da vida religiosa de Itá, Amazonas

observar diferentes fases no processo de formação da sociedade cabocla. Manaus é o centro irradiador de elementos de cultura urbana, seus agentes, os comerciantes e especialistas em vários ramos de atividade, missionários, mecânicos, telegrafistas etc., os elementos através dos quais essa cultura penetra e se fixa na região. As tribos indígenas do alto fornecem o braço de trabalho na medida em que se incorporam à sociedade rural e absorvem essa cultura, contribuindo ao mesmo tempo para a persistência e fixação de elementos ameríndios já integrados aos hábitos de vida do caboclo. O imigrante português, ou o nordestino que aí vem se fixar, tende a orientar a vida local para os padrões urbanos, com os quais se mantém em contato, seja através de visitas periódicas às sedes municipais ou à própria capital, seja através da literatura, do rádio e diferentes meios de difusão. Adquire, porém, novos hábitos de alimentação, participa integralmente do gênero de vida, passa a utilizar-se de uma língua nativa, a língua-geral, uma forma modificada do tupi-guarani, adquire novas ideias religiosas, notadamente aquelas que dizem respeito aos "bichos" da água ou da mata, como de processos de tratamento e cura de doenças utilizados pelos pajés nativos. Casa-se geralmente com uma cabocla e sua prole reflete por isso mesmo a influência do ambiente cultural misto. Outro extremo é o do içaneiro, designação que se dá aos índios das várias tribos do alto e que, atraídos pelos patrões, descem o rio para trabalhar nos seringais ou piaçabais, para, após um período que varia desde uma safra, ou seja três ou quatro meses, até anos, voltarem às suas malocas levando as inovações que resultaram de seu contato com os cariúas. Muitos desses içaneiros fixam-se definitivamente junto aos povoados do curso médio e inferior, onde passam a viver como

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