nos aldeamentos, o índio sob sua direção executava todos os trabalhos pelos quais clamavam os colonos. Como as fontes de estudo do período colonial entre nós têm sido os documentos jesuíticos, adotaram os historiadores, quase sem sentir, os pontos de vista destes. E como em geral vinham os historiadores repetindo-se uns aos outros, e os autores de manuais didáticos apenas respigavam os tratadistas da história nacional, perpetuava-se o erro. Assim continuava o índio a ser aquele selvagem inútil, incapaz de qualquer trabalho organizado, por indolência, segundo afirmam certos racistas da historiografia, por excessivo amor à independência, segundo certos historiadores dotados de um nacionalismo superficial e volátil.
Pela primeira vez nos estudos brasileiros, temos diante de nós uma investigação especializada da verdadeira função do índio no mecanismo econômico do Brasil colonial, de 1500 até a época em que, premidos pela escassez do braço índio, os colonos recorreram à escravidão negra, que dava renda ao rei, braços aos colonos e tranquilidade aos jesuítas.
A circunstância de ser esse estudo empreendido por um professor norte-americano merece uma referência pelo que representa de esforço de compreensão e verdadeiro sentido de colaboração cultural. Com uma honestidade exemplar, fugindo a qualquer exagero e evitando as conclusões apriorísticas, mas também destituído de uma servil adoração ao documento histórico, antes procurando interpretá-lo à luz da inteligência crítica e da lógica dos fatos humanos, o professor Alexander Marchant torna-se merecedor de nosso apreço pelo modelo de clareza e precisão científica que nos apresenta neste forte e condensado estudo da formação colonial brasileira. Se de estudiosos estrangeiros recebemos contribuições tão consideráveis ao esclarecimento dos estudos nacionais, esta que agora nos oferece o professor Marchant é das mais substanciais, em