sua firme e lúcida análise interpretativa. Ao mesmo tempo que confirma, na especialização de uma tese ainda não postulada entre nós, aquela constatação que alguns dos nossos melhores historiadores fizeram, de passagem, em estudos cujo vasto escopo não lhes permitia maiores indagações sobre essa matéria, o estudo do professor Marchant abre um novo horizonte ao estudo do índio na História do Brasil, – e por que não dizer? – reforça poderosamente a argumentação daqueles que; como Couto de Magalhães, Roquette Pinto e Rondon, sempre confiaram na capacidade de recuperação do índio.
Com este estudo pode-se dizer que ficam definitivamente vencidas as objeções céticas, e, no entanto, tão frágeis, daqueles que procuraram ver no que chamaram "indianismo" um puro movimento romântico, de sabor idealista, sem apoio na realidade nem possibilidades de aproveitamento efetivo.
Da leitura deste estudo decorre uma conclusão irreprimível: os índios fundamentaram a estruturação econômica do Brasil colonial, e o escambo foi a forma pela qual eles deram a sua contribuição.
Corrijam-se, portanto, as histórias do Brasil para uso das escolas. Parafraseando Teodoro Sampaio, pode-se dizer que o índio não era tão indolente quanto se tem afirmado nem tão nômade ou amante da liberdade que não fosse capaz de ser útil.
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Finalmente, julgamos oportuno esclarecer certos pontos relativos à tradução do estudo do prof. Marchant. Usamos a expressão "escambo", um pouco rebarbativa, em vez de simplesmente "permuta" ou "troca", porque ela corresponde melhor à realidade da época, impregnada, como está, do espírito e da verdadeira natureza da operação