cuja fonte só pode ser a tradição oral entre os jesuítas e os colonos. O mais expressivo exemplo da transcrição da tradição oral é a História de frei Vicente. Levando em conta esse elemento da tradição oral, as fontes escritas podem ser usadas com considerável confiança, dependendo da consideração que o leitor der à oportunidade do autor para observar cuidadosamente. Soares de Sousa, por exemplo, em sua descrição da Bahia, deixa no leitor a impressão de que conhecia intimamente muitos dos documentos endereçados ao rei por Mem de Sá.
Tomando em primeiro lugar os escritos de Lery e Thévet, ver-se-á que em grande parte eles se repetem um ao outro quanto ao assunto. Mas a diferença entre eles é acentuada. Ambos estavam com Villegaignon na colônia huguenote que Coligny quis fundar na baía de Guanabara. Thévet, o cosmógrafo, só incidentemente estava envolvido nas disputas teológicas que tanto contribuíram para o malogro da colônia. Seu livro, editado em Paris em 1557, embora inclua um relato da exposição de Villegaignon, é principalmente uma descrição da terra e do povo. Por outro lado, Lery tornou-se tão inteiramente leal à facção calvinista na baía de Guanabara, que chegou a ser, segundo disse, traído por Villegaignon. Em seu livro, impresso em 1578 em La Rochelle, a descrição da terra está subordinada à defesa da tentativa dos colonos huguenotes. Entremeando os tópicos sobre história natural e geografia encontram-se digressões às expensas dos detratores dos huguenotes. De certo modo, coube-lhe a última palavra na disputa teológica, pois seu livro veio à luz não só muito depois do de Thévet, mas também muito depois de extinto o movimento de panfletos pró e contra Coligny.
As cartas jesuíticas exerceram grande influência sobre os escritores de história do Brasil, porque sua classificação da matéria, seu tom civilizado e sua coerência