Do escambo à escravidão. As relações econômicas de portugueses e índios na colonização do Brasil. 1500-1580

fazem acentuado contraste com a barbaria circundante, ao tempo em que eram escritas essas cartas. Quase todas, dentre as que foram usadas neste estudo, são relatórios para outros jesuítas, em outras partes do Brasil ou em Portugal, do que estavam fazendo no Brasil os membros da Companhia. Excetuam-se algumas cartas sobre assuntos inteiramente teológicos (cf., por exemplo, Anchieta, pág. 272-273, 275, 276, 277-278). Em resumo, todas essas cartas contêm uma história que, despida de seus detalhes, é simples. Primeiro, descrevem o estabelecimento da ordem e o começo do seu trabalho na Bahia. Depois referem-se à extensão do trabalho até São Vicente. A seguir, ao discutir o envio de missões desses dois centros, descrevem como a obra prosperou ou não prosperou após o esforço inicial de fundação. As cartas de Nóbrega, sobretudo, tratam do problema da fundação e sustento da ordem na região relativamente urbana da Bahia: como levantar a renda, como obter ajuda desta ou daquela pessoa, como proteger aquilo que a ordem já recebera, qual a posição da ordem em face da lei civil e da lei canônica, e outros assuntos de negócio e administração. As cartas de Anchieta mostram outra situação, a da vida na região de São Vicente, mas selvagem. Em muitos pontos, essas cartas repetem o assunto das de Nóbrega. Diferem inteiramente, no entanto, ao descrever o ataque português aos franceses, na baía de Guanabara, e na subsequente fundação da cidade do Rio de Janeiro. Por um momento, os relatos de Anchieta, Lery e Thévet encontram-se para iluminar a cena de três pontos de vista diferentes. O que se diz das cartas de Nóbrega e de Anchieta é também verdade para as dos outros jesuítas, às quais, de certo modo, as daqueles dois fazem sombra. Suas cartas coligidas foram denominadas "avulsas", excelente definição, pois ao examiná-las o leitor perde o senso de uma mentalidade única e forte observando e dirigindo

Do escambo à escravidão. As relações econômicas de portugueses e índios na colonização do Brasil. 1500-1580 - Página 198 - Thumb Visualização
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