Selvagens amáveis - Um antropologista entre os índios Urubus do Brasil

Deve o Brasil muitas cousas aos índios, não importando quanto sejam eles escarnecidos. Na realidade, não fosse o conhecimento da floresta por parte dos indígenas, e os portugueses teriam talvez fracassado na colonização. Cereais, que não davam bem nos trópicos, tiveram de ser abandonados. Em lugar deles, começaram os colonizadores a cultivar mandioca, preparando-a, na maneira complicada dos índios. Atualmente, os camponeses brasileiros usam muitos outros costumes indígenas. Dormem em rede; se pobres, caçam com arco e flecha e não com armas de fogo; usam armadilhas indígenas para caçar e pescar e denominam animais, aves e plantas com palavras dos silvícolas. Com, tais conhecimentos de história natural se mistura considerável quantidade de tradições sobrenaturais. Acreditam os camponeses civilizados em Curupir, o espírito das selvas, no conceito de panem ou urucubaca, na eficácia do tabaco como fumigante, no xamanismo; a flora medicinal é quase toda baseada em conhecimentos indígenas e os melhores amuletos de caça, naturalmente, são os feitos por eles.

Um desses amuletos é conhecido, mesmo nas cidades. É um pássaro chamado wira-puru, o pássaro saltador (Pachysilvia sp). É, segundo os índios, o rei das aves, porque, onde quer que vá, o seguem os demais pássaros da floresta. É por isso cheio de mágica. Usam-no eles como amuleto para caça se, ao flecharem-no, ele cair, no chão, de ventre para cima. De ventre para baixo, é usado como amuleto de amor, para ser escondido na mão, descobrindo-se o bico e apontando-o para a mulher amada, quando ela não estiver olhando. Tais pássaros são muito procurados em Viseu e Belém: lojistas põem-nos embaixo da soleira da porta, para se assegurar uma onda de clientes; guardam-nos os negociantes nas escrivaninhas ou nos cofres; conservam-nos os amantes nos bolsos. Há tal procura que um índio, meu conhecido, foi a Belém com

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