Selvagens amáveis - Um antropologista entre os índios Urubus do Brasil

vinte pequenos pássaros secos, de diferentes espécies e conseguiu impingir todos eles como wira-puru; voltou equipado com novos tecidos, facões, fumo e outras boas mercadorias.

Mas as cousas que os índios e os civilizados têm em comum, encobrem reais diferenças, quer pequenas, quer grandes. As pequenas diferenças são absurdamente pequeninas - tais como comer com os dedos em vez de o fazer com a colher, usar ou não calçados, dizer "me dá" e não "faça o favor". São triviais mas importantes, porque há muitas delas. As grandes diferenças, entretanto, não são tão facilmente vistas ou compreendidas: são os valores especiais que cada homem admite, os motivos que dão significado à vida. Em uma palavra, são as diferenças religiosas. É isso que torna difícil a compreensão entre povos diferentes, porque a religião é algo que só pode ser adequadamente compreendida quando vivida.

Assisti a um divertido exemplo dessa dificuldade, em Canindé, quando uma criança foi batizada. O pai não estava contente com a situação, pois a criança estava doente - a mãe não tinha leite. Ele estava triste, também, porque não conseguia batizar o filho como devia, com um padre, o que significava uma viagem até Viseu, e isso estava acima de suas posses. Pediu a João que oficiasse a cerimônia.

Os pais da criança varreram a cabana, desarmaram as redes, pediram emprestados alguns bancos que puseram em torno na parede. Todos que viviam em Canindé, foram ver a cerimônia. Havia um aperto terrível e João teve dificuldade para penetrar na cabana. Finalmente, tudo estava pronto para começar.

"Onde está a água?" - perguntou. Trouxeram-lhe água fria.

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