Selvagens amáveis - Um antropologista entre os índios Urubus do Brasil

tiveram de utilizar algum personagem da mitologia aborígene, elevando-a à categoria de Deus, considerando as outras como demônios. No Brasil, os missionários referiam-se a Deus com o nome de Tupã, o trovão. O Deus do Trovão tinha possibilidades de se tornar absoluto, pelo fato de que fazia muito barulho e matava com seus dardos(2) Nota do Autor. De qualquer modo, Tupã foi uma escolha melhor do que Mair, tão simplesmente um super-homem, pois Tupã tem a vantagem teológica de ser desencarnado e de viver no céu.

As palavras, entretanto, são cousas poderosas, especialmente quando se referem a forças mitológicas. Apesar dos esforços em tornar cristão a Tupã, os resultados foram, algumas vezes, opostos e Cristo é que se tornava indígena. Isso aconteceu entre os urubus. Uma missão inglesa funcionou perto de Jararaca, há muitos anos, já tendo sido removida. Parece que rivalizou, em popularidade, com o posto indígena, pois os índios lá iam constantemente, quer à procura de presentes ou remédios, quer por simples prazer. Embora não tenha feito nenhuma conversão entre eles (ao que eu saiba), muito contribuiu para os auxiliar e, de seus ensinamentos, surgiu um mito completamente novo, segundo me contou Anakãpucu. Havia-lhe eu perguntado quem criara os cachorros, no começo do mundo. Para minha surpresa, eis o que me contou:

Um dia, Tupã veio à terra e surucou com uma mulher casada. Ela nada disse ao marido, mas, alguns meses mais tarde, não pôde ele deixar de observar que estava grávida.

"Não é meu o filho!" - disse enraivecido.

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