História da alimentação no Brasil – 1º volume: cardápio indígena, dieta africana, ementa portuguesa

Andei uma temporada tentando Josué de Castro, em conversa e carta, para um volume comum e bilíngue. Ele no idioma da nutrição e eu na fala etnográfica. O Anjo da Guarda de Josué afastou-o da tentação diabólica. Não daria certo. Josué pesquisava a fome e eu a comida. Interessavam-lhe os carecentes e eu os alimentados, motivos que hurlaient de se trouver ensemble. Na sua Geografia da Fome (Rio de Janeiro, 1946), no prefácio, Josué alude ao projeto de uma "história da cozinha brasileira", de quem me libertei também.

Fiquei mais de 20 anos capitalizando informações e marcando páginas sobre o assunto que devia tentar, muito mediocremente, a um editor e, menos ainda, merecer atenção de sociedade que autorizasse o trabalho. Acabei sem pensar no sonho teimoso e perseguidor, guardando em gaveta tranquila as notas adormecidas.

Em agosto de 1962 recebi do Embaixador Assis Chateaubriand um western que abria assim: QUERÍAMOS GRANDE ENSAÍSTA FOSSE PORTUGAL E ESPANHA ESCREVER TRABALHO. NOSSA SOCIEDADE PEDRO SEGUNDO SOBRE PONTO HISTÓRIA DO BRASIL LHE INTERESSA...

Já escrevera para a Sociedade de Estudos Históricos D. Pedro II duas pesquisas etnográficas: - Jangada, em 1957, e Rede de Dormir, em 1959, editadas no Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura.

Sugeri a História da Alimentação no Brasil. Tínhamos bibliografia excelente sobre o problema da nutrição, notadamente sob o ângulo da dietética, mas quase nada fixando a sistemática do passadio nacional na quarta dimensão, começando pelos tupiniquins que Pero Vaz de Caminha encontrara em Porto Seguro. O Embaixador Assis Chateaubriand fez-me voar para São Paulo.

Tarde de 4 de setembro. Casa Amarela, Jardim Europa, ao anoitecer. Plano aprovado. Primeiras disposições para a tarefa. Recursos para elaboração tranquila.

Não havia de ser relatório da gastronomia brasileira nem coleção de receitas históricas, com intercorrência anedotarial. Uma tentativa sociológica da alimentação na base histórica e etnográfica, correndo quase quinhentos anos funcionais.

Voltei pelo Recife já catucando os amigos. Sacudi as primeiras cartas perguntadeiras para Norte, Centro e Sul. Para

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