História da alimentação no Brasil – 1º volume: cardápio indígena, dieta africana, ementa portuguesa

papa de milho miúdo, milheto, cevada, favas e pão. A maçã e a cereja existiam em tipos cultivados.

A torta levou ao pão, quando se pôde ter a fermentação do grão, esponjamento e acidificação. Pão de trigo na França, Inglaterra, Espanha, Itália. Centeio na Alemanha. Trigo espelta na Suíça. Cevada na Noruega. Aveia na Escócia. Milho no continente americano, central e do norte. Em Portugal a broa de milho miúdo, o pão preto de aveia e centeio, é tão tradicional quanto na Espanha e Europa de Leste. A mais antiga representação é um grupo de madeira figurando uma padaria egípcia em 2500-1800 a.C. A fabricação do pão sugeriu a técnica da cerveja. O vocábulo alemão brot, pão, derivará de brauen, fazer cerveja. Entre os tupis do Brasil a feitura dos beijus (bolos de goma de mandioca) conduziu-os às bebidas fermentadas, todas pré-colombianas, usaua, caxiri, carimã, caisuma, tiquira. Mas Karl von den Steinen encontra em 1884 os bacairis (caraíbas) do rio Xingu, assando beijus e ignorando a bebida fermentada. Praticamente ocorre, em nossos dias, o mesmo com os umutina do alto Paraguai (Mato Grosso).

Há mais de dois mil anos que o pão se tornou o alimento simbolicamente típico. Significa o sustento, alimentação cotidiana, normal, clássica. Pão de cada dia. Ganhar o pão com o suor do rosto. Panem et circenses, reclamava a plebe romana como aspirações únicas. "Eu sou o pão da vida", declarava Jesus Cristo (João, VI, 35). Demócrito viveu três dias respirando o odor dos pães quentes. A fabricação do pão era indústria caseira como presentemente vemos na maioria das casas de lavradores na Europa. Em Roma as padarias públicas são posteriores ao ano de 146 a.C. As famílias continuaram fazendo o seu pão, independendo do fabrico exterior. Por isso as associações de padeiros são bem tardias e depois do maior número de organizações profissionais romanas, sem que sua ausência implique a inexistência da indústria.

O leite foi bebida comum, retirado às vacas, jumentas, camelas, cabras, ovelhas, éguas, renas, búfalas. O preferido era de cabras, elogiado por Hesíodo e 700 anos depois por Virgílio, Geórgicas, III, 308-310, 394-397. At qui lactis amor, cantava o mantuano, deverá cuidar do cabril. Petrônio compara o peito da amada ao leite da cabra recém-ordenhado: - "sed lacti saturae quod possuere caprae." O leite das vacas reservavam

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