É o idioma na sua vida verdadeira que ela investiga e estuda. O ponto de vista literário não é o da ciência. Por essa razão, toda língua que traduz verbalmente, com exatidão, o pensamento é perfeita. O facto de linguagem brasileiro é tão certo e legítimo como o facto de linguagem português, e como o de qualquer outra língua. Se alguns ou muitos desses factos não são os mesmos que os portugueses, isso não tem aos seus olhos nenhum valor negativo. Ao contrário, são eles os de maior importância. São eles que manifestam a diferenciação da língua entre nós. São eles os que principalmente devem ser estudados.
Entre nós, porém, sucedia com os puristas o oposto. Os nossos factos de linguagem eram olhados como elementos sem o menor valor para a nossa língua.
Mas o tempo dos dogmatismos gramaticais já vai longe. A linguística não leva na menor conta as regras da gramática. O prisma, através do qual encara os fenômenos linguísticos, é inteiramente diverso. A língua, tal como se nos apresenta na sua fisionomia natural, constitui o objeto da sua indagação.
Entre as principiais questões da linguística é, fora de dúvida, das mais importantes, a da evolução dos idiomas.
De dois modos aprecia a ciência essa evolução: no tempo e no espaço.
Ouçamos a lição de um dos mais profundos mestres na matéria.
Estudando as causas da diversidade geográfica escreveu SAUSSURE:
"A diversidade absoluta (das línguas) cria um problema puramente especulativo. Ao contrário, a diversidade no parentesco nos põe no terreno da observação e pode ser reduzida à unidade.
"Para bem compreender como as coisas se passam, imaginemos condições teóricas tão simples quanto possíveis, permitindo apanhar a causa essencial da diferenciação no espaço e indaguemos o que se passaria se uma língua falada num ponto nitidamente delimitado - uma ilhota, por exemplo -