Língua brasileira

de um povo organizado politicamente. Foi o fenômeno político da unidade nacional que exigiu a uniformidade de uma linguagem nacional para o exercício do Estado na sua autoridade.

Dentre os vários dialetos falados nas terras portuguesas, o Estado escolheu um deles para desempenhar a função de língua oficial, que devia servir de língua comum a todo o país. Foi uma condição de ordem EXCLUSIVAMENTE política que fez passar o dialeto de Entre-Douro-e-Minho à qualidade de língua de toda a nação portuguesa.

"O português escrito não foi, a princípio", diz SAID ALI, "uma língua literária na acepção que hoje se dá a este termo, e muito menos ainda a expressão do falar do povo. Nos documentos públicos usou-se naturalmente um estilo de chancelaria, algo pretencioso e artificial, próprio para infundir respeito no espírito da ralé. Nas leis e costumes, nos foros outorgados pelos reis, nos acordos e autos, nas cartas, nos alvarás, despachos e sentenças, usou-se sempre essa linguagem convencional, envolta de certa atmosfera de superioridade, em que mal se saberiam exprimir os homens de baixa condição.

Nem podia deixar de ser assim. As relações políticas e sociais aproximavam indivíduos de pontos diferentes do reino, e cada qual vinha com o seu falar nativo. Portugal não possuía, de facto, uma língua uniforme, estava retalhado em dialetos. Cumpria haver uma língua escrita oficial, que servisse de meio de comunicação a todos. Um dos dialetos se tomou naturalmente por base para essa língua escrita e supõe-se ter sido o de Entre-Douro-e-Minho, ou interaninse.

O facto de ter a língua escrita um caráter nobre e ideal, muito acima do ambiente confuso dos falares plebeus ou da gente rústica, fez com que a cultivasse com amor o rei, a quem mais cumpria sabê-la, e a nobreza que se acercava do trono. A língua oficial dos documentos passou a ser o idioma falado na corte. E quando se pensou em escrever

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