Não há necessidade de recorrer a outros mestres para salientar a relatividade das noções de dialeto e de língua. É um lugar comum na ciência. Aqui a indicamos para focalizar apenas um dos aspectos do fenômeno linguístico da maior importância na distinção entre língua e dialeto.
Vimos não haver em linguística um critério linguístico específico para distinguir, do ponto de vista estritamente científico, glotológico, dialetos e línguas, sendo que a entidade real para a ciência da linguagem é o dialeto. Sob certos aspectos é ele considerado língua; mas os caracteres que lhe conferem essa denominação não são de natureza propriamente glotológica ou linguística. São condições alheias aos fenômenos da vida da linguagem.
Vimos também que contingentemente variam as causas que levam um dialeto a ser considerado língua. A existência de uma literatura ou de uma gramática pode determinar as distinções, outras vezes um dialeto é língua sem depender da criação literária ou da existência de uma gramática, tal como acontece com a "maior parte das línguas". Uma condição, porém, confere sempre a um dialeto a qualidade de língua. Queremos nos referir à condição política. Como disse Whitney, a ninguém lembrará chamar dialeto ao idioma de um povo.
Todo dialeto de nação independente, soberana, é língua. De maneira que até podemos também dizer que língua é o dialeto de um povo livre, de um ESTADO.
Assim, é da maior relevância, na passagem de um dialeto para a condição de língua, o elemento de natureza política. Esse elemento têm uma influência decisiva e inevitável.
Vamos às provas.
Com a própria linguagem da Lusitânia verificamos a ação exercida pela ordem política na transformação dos dialetos em língua. Não foram razões de natureza linguística que determinaram a padronização do idioma português. Foi, como em toda a parte, a necessidade de uniformizar a linguagem