Noutra parte mostramos como é perfeitamente justa, legítima e acertada a intervenção do Estado na determinação e na denominação da sua língua oficial, da língua da nacionalidade.
Dessa interferência do poder público no idioma do povo, no idioma do Estado, não escasseiam exemplos, nem na história antiga nem na moderna.
Se levarmos em consideração que a própria "língua comum", a unidade idiomática, é uma consequência da ação política, não é possível estranhar o papel de grande relevância que esta desempenha na vida das línguas.
O mais eloquente dos exemplos, entretanto, é o de casa, o do português no Brasil. A língua portuguesa só logrou viver aqui graças a um ato do governo metropolitano. Em 1727, por meio de uma provisão, foi proibido o uso da "língua geral" falada na imensa maioria da população, inclusive os portugueses. Sem a interferência da metrópole, a colônia, o Brasil, não teria falado outro idioma.
A verdade histórica, pois, é que a língua portuguesa foi imposta aos brasileiros por um decreto do Estado português.
Em resumo:
Procuramos assentar nas lições da ciência e da história das línguas, a demonstração da existência de uma língua brasileira, que - a despeito de todos os obstáculos, já no domínio da literatura, já no domínio da instrução, já na força dos preconceitos, já na trama das convenções arbitrárias, já no desvirtuamento da história do idioma que os nossos clássicos escrevem, os nossos gramáticos apregoam, os nossos mestres ensinam - vive, em toda a sua beleza e pujança tropical, na boca e na pena do povo, nas mais belas páginas da nossa literatura libertada da servidão lusitana, e vive também na boca dos próprios devotos da superstição clássica, purista, à portuguesa.