Viagem Militar ao Rio Grande do Sul

Ao chegarmos ao pátio do templo tradicional, um homem, em mangas de camisa, varria a escadaria exterior. A igreja estava de portas fechadas. Mas Fleiuss saltou do automóvel para pleitear a entrada no templo.

— Agora não é possível, patrão, disse o homem, a varrer o último degrau.

O secretário perpétuo do Instituto Histórico insistiu. Estava ali o Conde d'Eu, que tanto gosto fazia em visitar a igreja... Ao ouvir o nome de Sua Alteza, o varredor arregalou os olhos e a vassoura caiu-lhe das mãos. Era estrangeiro, europeu, com certeza, e o nome dos príncipes foi sempre impressionante para o povo da Europa.

O homem sumiu-se e, minutos depois, a porta da igreja abria-se. Entramos. O templo vazio, mudo, estava mergulhado numa penumbra que era quase escuridão para os nossos olhos acostumados ao fulgor do céu lavado da manhã. Distinguiam-se vagamente os dourados e as pratas dos altares. O Conde d'Eu encaminhou-se para o altar-mor e ali ficou, num esforço de pupilas, a mirar a Santa.

Mas, de súbito, num grande choque, e numa grande surpresa, a igreja de um só jato iluminou-se. Altares, teto, púlpitos, colunas, arabescos brilharam inesperadamente, como num cenário de mágica. A Santa do altar-mor coruscou, magnificamente, numa auréola de luz.

Senti o corpo do velho conde vacilar. A surpresa tinha-lhe sacudido fortemente o coração. E pouco a pouco, com os olhos na auréola que banhava a Santa, os joelhos se foram dobrando, dobrando, e todo ele se ajoelhou, agora de cabeça baixa, orando.

Todo aquele inesperado se explica em duas palavras. É que o varredor correra a avisar o sacristão, e a surpresa da luz, nada mais fora que um gesto gentil do sacristão para com o marido da Redentora.

Nos DESPOJOS ABANDONADOS, diz Viriato Corrêa:

Ao subir a áspera ladeira do Convento de Santo Antônio, eu levava no peito uma palpitação emocionada.

Aquele velho casarão que se erguia diante dos meus olhos, feio, acaçapado, com um tom sombrio de vetustez, guardava um mundo de lembranças históricas. Fora ali o ninho das inteligências revoantes de frei Sampaio, Rodovalho e Monte Alverne.

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