À porta, eu e Max Fleiuss esperávamos o Conde d'Eu. Sua alteza subia penosamente a ladeira.
Os restos mortais de algumas figuras da família imperial repousavam até há poucos anos, no convento da Ajuda. Com a demolição da velha casa de freiras, foram transportados para o teto histórico do Convento de Santo Antônio, provisoriamente, até que o governo, ou o povo, lhes desse melhor destino.
Eram esses despojos augustos que o Conde d'Eu, acompanhado pelo seu filho D. Pedro, vinha visitar.
À porta do Convento, ao tinir da campainha, um frade adolescente, convidou-nos a entrar. O Instituto Histórico, por telefone, havia avisado os frades da visita de suas altezas.
No primeiro corredor, surge-nos um homem alto, magro, esguio como agulha, e com um tom de bondade e inteligência nos olhos.
É frei Diogo, o guardião do convento.
Aperta efusivamente a mão do conde, mas com um cunho de energia, democraticamente, sem aquele traço de humildade muito próprio dos religiosos quando diante das figuras reais. Sentia-se bem que era um frade da República, um frade do convento de Santo Antônio — o ninho tradicional da democracia brasileira.
Uns passos adiante, desce pressurosamente a escada outro frade. É gordo e baixo. Toda a sua fisionomia está lavada de um sorriso, mas de sorriso fresco, claro, saboroso e bom.
É frei Ignacio. Aperta também a mão dos príncipes, com a mesma expressão democrática de frei Diogo.
Caminhamos um pedaço de corredor, ladeado pelo pequeno jardim onde os pardais saltitam e gritam como garotos.
Subitamente frei Diogo que vai à frente, para e, com um gesto, mostra-nos alguma coisa.
Paramos todos.
Estavam ali os despojos da família imperial.
Dou dois passos à frentes estacamos.
Num vão de parede, num feio e simples vão de parede, vejo três caixões mortuários — um grande e alto, outro menor e o último pequenino.