que haja uma falta no mercado mundial e, segundo o princípio da oferta e da procura, os preços no mercado mundial subirão. Se o princípio seguido pelos responsáveis brasileiros é simples, seus resultados serão catastróficos. Isso por várias razões. Primeiramente, não se limita a produção nacional, que continua a subir, tanto mais que o governo se empenha em comprar, a preços da citação mundial, a produção de exportadores potenciais que não conseguiram vendê-la, no estrangeiro, em virtude das disposições governamentais. Não é preciso mais para que a produção aumente, pois os plantadores estão certos de poder escoar sua colheita. Em seguida, o governo forma estoques impressionantes e os financia com empréstimos contratados geralmente no exterior... Por fim, como esses empréstimos devem ser reembolsados pelo Estado brasileiro, é o conjunto da sociedade que deve fazer sacrifícios em proveito da oligarquia ligada ao café. Essa "opção econômica" mostra a que ponto expressões como a "República oligárquica" designam com muita propriedade a Primeira República.
Para além das injustiças e do absurdo da política de "valorização do café" - quando se quer aumentar as vendas no exterior, é preciso tornar-se mais competitivo e, portanto, diminuir os preços e não fazê-los aumentar -, cumpre sublinhar a fragilidade do sistema. Com efeito, a falta do produto no mercado mundial tende a encorajar o aparecimento de outros produtores e, portanto, de outros concorrentes. Esse risco se concretiza, pois a importância do Brasil no mercado mundial do café passa de 67% do total em 1926-27 para 61,8% em 1929-30. Uma fraqueza do sistema de "valorização do café" é que o país não poderá escoar seus estoques, pois a demanda mundial desse produto é inelástica e não pode seguir a ascensão das cotações. Por fim, se por uma razão ou outra, independente apenas da vontade do Rio de Janeiro, o mercado mundial sofre uma crise, é toda a economia do país que é atingida, pois as exportações de café representam mais de 60% do total das exportações brasileiras.
Quando a crise de Wall Street explode em 1929 e, em algumas semanas, desorganiza completamente o comércio mundial, começa-se a melhor se dar conta dos delitos da política de "valorização do café". A queda substancial das cotações mundiais dessa mercadoria é uma catástrofe para a economia brasileira. É verdade que essa queda é particularmente sensível, pois o café perde 50% de seu valor entre novembro de 1929 e janeiro de 1930. Os produtores brasileiros endividam-se, na certeza de poder escoar sua produção. Quando as cotações mundiais caem e o governo se encontra na impossibilidade de sustentar as exportações através de subsídios, o país é tomado de uma onda de falências e de suicídios, reflexos do desespero dos produtores, sobretudo dos pequenos e médios.
Para tentar frear a queda livre das cotações mundiais, o governo decide destruir os estoques. Queimam-se assim, durante os dois últimos meses de 1929 e nos anos seguintes, quase cinco milhões de toneladas de café, o