em virtude da veemência dos propósitos mantidos por Borges de Medeiros, pois, declara ele, "nunca esperei nem desejei a presidência [do estado do Rio Grande do Sul]"(26). Nota do Autor Nessa única frase transparecem dois importantes traços do caráter de Getúlio Vargas que vão confirmar-se posteriormente: o oportunismo e a paciência.
Depois da eleição esperada de Getúlio Vargas para a presidência do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros considera sua obra política cumprida e retira-se para o interior do estado, para a cidade de Cachoeira do Sul. Conserva apenas a presidência do Partido Republicano gaúcho - título mais honorífico que real - e não segue mais a política regional e nacional como o fazia anteriormente. É aos substitutos que escolheu - em particular a Getúlio Vargas - que cabe a conduta efetiva da política e Borges de Medeiros é apenas uma eminência parda consultada sobre as questões mais importantes e delicadas.
Portanto, é a Getúlio Vargas que Antônio Carlos deve dirigir-se quando se trata de preparar uma ação a fim de frustrar a candidatura de Júlio Prestes à Presidência da República. A indecisão dos dirigentes do Rio Grande do Sul é compreensível, porque, além das incertezas do resultado dessa luta, Getúlio Vargas considera, com justa razão, que sua carreira política avança a passos muito rápidos. Simples deputado do estado do Rio Grande Sul no início da década de 20, em seguida deputado federal, ele ocupa desde 1926 o Ministério das Finanças e dois anos mais tarde a Presidência do Rio Grande do Sul, ei-lo, doze meses depois, às vésperas de ser candidato à Presidência da República. Além de sua prudência e de seu caráter conciliador, Getúlio Vargas não se sente à vontade para lutar abertamente contra Washington Luís, pois ele é o responsável - ao convidá-lo para ocupar o cargo de Ministro das Finanças - por sua projeção na cena política nacional.
Antônio Carlos não se desespera diante das reticências dos dirigentes gaúchos e decide jogar a carta da ambição política de Vargas, que é inegável, para convencer os responsáveis políticos sulistas da necessidade de uma aliança eleitoral contra Washington Luís.
Após ter oferecido a Getúlio Vargas a possibilidade de ser o candidato da oposição, Antônio Carlos desenvolve uma argumentação à qual os dirigentes gaúchos são muito sensíveis. Ela é muito simples: é preciso a todo preço pôr termo aos comportamentos do governo central, dominado pelo estado de São Paulo, sem levar em conta as aspirações de outros estados da Federação, em particular os mais importantes. O dirigente de Minas Gerais considera que a ocasião que se apresenta para o Rio Grande do Sul é única e o estado sulista poderá finalmente reivindicar, em nível nacional, um papel compatível com sua importância política, econômica e estratégica. Além do