compensação, a exemplo da Alemanha, o palácio Chigi está em constante dilema entre uma aproximação com Getúlio Vargas - considerado pelos diplomatas italianos como um "chefe heroico" - e a Ação Integralista Brasileira, "filha autêntica do fascismo". A Itália então realiza um jogo duplo e se esforça, por um lado, para manter boas relações com Getúlio Vargas e, por outro, para se aproximar de Plínio Salgado.
Se a Itália não tem objetivos precisos em relação ao Brasil, sua diplomacia difere da da Alemanha por seus métodos. Estes se caracterizam pela maleabilidade, pelas relações pessoais e pelo oportunismo. Mesmo nas crises, como, por exemplo, o caso Fournier, o palácio Chigi tende mais à conciliação que ao confronto. Sob esse aspecto, a única fraqueza da diplomacia italiana em relação ao Brasil durante o período 1930-1942 é o pouco domínio exercido por Ciano sobre seus embaixadores, em particular Lojacono, que se encontra na origem de uma crise ítalo-brasileira.
Como tivemos acesso a fontes inéditas, pudemos esclarecer certos aspectos da política do Eixo no Brasil às vésperas da Segunda Guerra Mundial, os quais eram desconhecidos até o presente momento. Assim, se os métodos de Roma e de Berlim diferem em seu enfoque da realidade brasileira, a finalidade última visada pelas duas capitais é a mesma, a saber, a "defesa" de suas colônias e a busca de um aumento de influência na política interna brasileira através da AIB ou de certos membros do governo.
Por fim, os Estados Unidos. A despeito de alguns erros de apreciação da situação política brasileira e da falta de tato e de psicologia, manifestada por várias vezes pelo Departamento de Estado, este é o único que tem uma política constante e coerente durante o período estudado. Bem cedo os Estados Unidos designam seu adversário: o nazifascismo. A partir daí, toda a estratégia de aproximação com a América Latina, em geral, e com o Brasil, em particular, obedece apenas a um único objetivo: resguardar o Novo Mundo do perigo totalitário. Isto está longe dos desejos brasileiros, e esse fosso explica muitas das peripécias. Washington deve compor em várias oportunidades e até mesmo ceder, em 1942, vantagens importantes ao Brasil quando o esforço da nação americana é comprometido pela indústria de guerra. É o preço pago à lealdade brasileira. Contudo, as sementes deixadas no fértil solo brasileiro deram seus frutos, que fazem da cooperação americano-brasileira, em todos os níveis, um dos dados essenciais da realidade política do Novo Mundo atual.
A existência de vínculos novos e privilegiados com os Estados Unidos é de longe o dado mais marcante do período estudado. De fato, é longo o caminho que vai do pan-americanismo, algumas vezes hesitante e teórico das primeiras conferências continentais, à entrada do Brasil na guerra.