O Brasil de Getúlio Vargas e a formação dos blocos: 1930-1942. O processo do envolvimento brasileiro na II Guerra Mundial

A historiografia brasileira apresenta o período posterior a 1939 como sendo caracterizado pela incerteza das opções que o Brasil poderia ter na cena internacional, na medida em que o país é capaz de a todo momento inclinar-se para um lado ou para outro. Os Estados Unidos acreditaram nessa possibilidade até 1942. Ora, apesar das aparentes idas e vindas, a política externa brasileira obedece efetivamente, a partir de março de 1938, a princípios rígidos orientados por uma entente encarada como necessária e indispensável com os Estados Unidos. Em compensação, antes de março de 1938, a posição brasileira é bem menos explícita. De fato, antes dessa data, que marca a entrada de Osvaldo Aranha no Itamarati, existem vínculos extremamente cerrados - econômicos, políticos, policiais e ideológicos - com as potências do Eixo. Portanto, se por intermédio do Brasil há perigo para a democracia e para a solidariedade pan-americana, esse perigo é anterior a março de 1938.

Esse corte, que até o presente não estava nítido na política externa brasileira, surge, na conclusão de nossa pesquisa, como algo adquirido. É quando o Brasil dá a impressão de seguir a via da solidariedade pan-americana, a entente com os Estados Unidos e o sistema democrático, como forma de organização política - antes de 1938 -, é nesse momento que se se encontra efetivamente muito próximo ao Eixo e em particular à Alemanha. Em compensação, quando Vargas adota uma Constituição de tipo corporativista, faz um duplo jogo de meias-voltas entre o Eixo e os Estados Unidos, o país está efetivamente ao lado de Washington e da democracia. Essa mudança de perspectiva é imposta pela própria pesquisa.

Para corroborar essa visão da política externa brasileira, observemos que o regime corporativista instaurado por Getúlio Vargas em novembro de 1937 deixará de ser um obstáculo à aproximação brasileiro-americana a partir do desaparecimento da AIB do cenário político nacional. Note-se a espantosa fragilidade dos rótulos políticos e das ideologias no Novo Mundo e em particular no Brasil: aos próprios olhos de Washington não existe contradição entre uma entente com um regime totalitário de tipo fascista, a partir do momento que se trata de combater o fascismo e ó totalitarismo!

Depois da entrada de Osvaldo Aranha no governo e da eliminação definitiva da AIB, está consumada a reviravolta da política externa brasileira. Outra prova disso é a atitude da diplomacia brasileira. Até março de 1938, o conjunto da representação do Rio de Janeiro no exterior dá, em várias oportunidades, provas de incoerência, de improvisação e de oportunismo, como demonstram, por exemplo, as atividades do embaixador Moniz de Aragão em Berlim. Depois da nomeação de Osvaldo Aranha para o Itamarati, os embaixadores brasileiros no estrangeiro recebem instruções estritas a respeito de certas questões - como a das colônias estrangeiras estabelecidas no país. No entanto, Osvaldo

O Brasil de Getúlio Vargas e a formação dos blocos: 1930-1942. O processo do envolvimento brasileiro na II Guerra Mundial - Página 449 - Thumb Visualização
Formato
Texto