Aranha ainda não está satisfeito com essa situação e decide tomar duas medidas principais. De um lado, designa homens de inteira confiança para as principais capitais, como Carlos Martins para Washington e Cyro de Freitas Valle para Berlim. De outro lado, Aranha decide concentrar todas as questões importantes em suas mãos e apenas raramente recorre aos serviços das embaixadas no estrangeiro. Consequentemente, a diplomacia brasileira se faz a partir de março de 1938, no Rio de Janeiro, sob a direção exclusiva de Osvaldo Aranha.
Três fatores principais determinam a orientação definitiva da política externa brasileira às vésperas e durante os primeiros anos do segundo conflito mundial. O primeiro é a atitude agressiva e equivocada da Alemanha, que perde em algumas semanas tudo o que ela pôde obter, graças ao trabalho paciente de sua colônia, bem como à complementaridade das economias dos dois países, e às inegáveis simpatias que o III Reich tinha em certos meios dirigentes brasileiros.
O segundo fator é a nomeação de Osvaldo Aranha para o Itamarati. Aranha entra no governo Vargas em posição forte; o acordo tácito que ele faz com Vargas - prometendo não se envolver na política interna do país - deixa-lhe as mãos inteiramente livres nas questões externas. Sua forte personalidade, suas estreitas ligações pessoais com Getúlio Vargas, sua grande admiração, pelos Estados Unidos e pelo Presidente Roosevelt, bem como as péssimas relações que ele mantém com a embaixada alemã, fazem com que o responsável pelo Itamarati desenvolva uma ativa política pró-americana, a partir de março de 1938.
O terceiro fator importante é a eclosão da guerra na Europa e a impossibilidade de tornar efetivas - através, por exemplo, de uma cooperação econômica em larga escala - as intenções de aproximação ainda existentes entre o Brasil e a Alemanha.
O Brasil quis realmente entrar em guerra? A essa pergunta algo acadêmica preferimos responder com o exame das atitudes dos dois principais atores brasileiros. A personalidade complexa de Getúlio Vargas, caracterizada por um senso alerta da política, por um oportunismo espantoso e por uma capacidade de adaptação às diferentes situações, faz com que o ditador brasileiro passe através das vagas - às vezes violentas, como a tentativa de golpe integralista - desse período conturbado da política nacional e internacional. Em suma, porém, segundo a óptica de reflexão fundamental, o papel primordial cabe, sem dúvida alguma, a Osvaldo Aranha. Em primeiro lugar, é por sua instigação e conselhos que Vargas não radicaliza o EN. A seguir, é a ele que cabe a difícil tarefa de apaziguar os temores de Washington diante do novo regime brasileiro, e é somente sua presença à frente do Itamarati que leva os Estados Unidos a decidirem não intervir ainda mais no Rio de Janeiro a partir de novembro de 1937. Enfim, é Aranha o adversário mais decidido tanto do grupo pró-totalitário dentro do governo brasileiro quanto do próprio Eixo. Sobressai, a partir de nossa