O Brasil de Getúlio Vargas e a formação dos blocos: 1930-1942. O processo do envolvimento brasileiro na II Guerra Mundial

pesquisa, o fato de a historiografia brasileira ainda não ter dado a Osvaldo Aranha a posição que lhe cabe, pois ele surge como sendo o verdadeiro mestre de obras da política externa brasileira a partir de dezembro de 1937.

Getúlio Vargas é um excelente tático: sua política interna provou-o diversas vezes. Contudo, é lícito perguntar se ele é tão bom estrategista quanto seu ministro das Relações Exteriores. Ambos concordam, como vimos, em se esforçar para aumentar o fraco poder de negociação do Brasil e obter para o país um máximo de vantagens econômicas e de assistência militar. Todavia, Aranha parece ter melhor apreciado, em todo caso mais cedo, a relação das forças reais: ajudado, sem dúvida, por suas simpatias pessoais, Aranha de fato percebe muito cedo que o caminho da neutralidade tende a se estreitar e que os acontecimentos militares vão, um dia ou outro, precipitar o Brasil na guerra, enquanto Vargas parece ainda esperar permanecer à margem do conflito. É preciso lembrar a esse respeito que o prudente Vargas é inclusive ultrapassado pela rua, quando das grandes manifestações de protesto de julho-agosto de 1942 contra os ataques à frota civil brasileira.

Para Aranha, a aproximação com os Estados Unidos é o caminho natural do Brasil. Se for preciso passar pela guerra, esta deve tornar-se o meio de obter, no plano econômico e militar, o que a paz recusava. O exemplo argentino deixa, no entanto, uma questão em suspenso: o caminho da neutralidade estava realmente fechado para o Brasil? Somente a história teria podido responder. E Getúlio Vargas - quem sabe? - talvez, se ele por acaso tivesse aceito a demissão por diversas ocasiões oferecida pelo seu brilhante ministro das Relações Exteriores!

Circunscrevamo-nos, todavia, aos fatos. Em uma perspectiva brasileira, o problema fundamental para os dirigentes do Rio de Janeiro ao longo de todo o período estudado é, sem dúvida, a aquisição dos meios técnicos e financeiros para lançar o país no caminho da industrialização. Durante os oito primeiros anos do governo Vargas, nada de concreto é feito. É a nomeação de Osvaldo Aranha para chefiar o Itamarati e a aplicação de uma política externa bem definida, assim como a situação mundial caracterizada pela eclosão da Segunda Guerra Mundial, que dão aos dirigentes do Rio de Janeiro a ideia de aproveitar a oportunidade que lhes é oferecida para aumentar o fraco poder de negociação do país. É dentro dessa nova perspectiva que deve ser compreendida e analisada a atitude brasileira a partir de 1939. O jogo duplo, as meias-voltas, as dificuldades com os Estados Unidos, os contatos sutis com a Alemanha, tudo isso faz parte da tentativa brasileira de aumentar sua capacidade de negociação. A partir daí os acontecimentos não deixam de moldar uma nova face do Brasil, no plano da política interna e em suas relações internacionais.

A entrada do Brasil na guerra fortalece duradoura e profundamente o papel político dos militares. Esse fato deve ser enfatizado, pois esse

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