through façades", a que se refere Peter L. Berger nas páginas admiráveis em que propõe e justifica uma perspectiva humanística para a moderna sociologia. Como acrescenta o Prof. Berger "the façades must be penetrated by one's own inquisitive intrusions".
Outra coisa não vem procurando fazer o autor deste livro desde os seus estudos de mocidade sobre o Brasil tropical e mestiço senão isto: reconhecer nestes dois adjetivos — tropical e mestiço — a realidade de sua influência decisiva sobre o substantivo. Vê-los para além das fachadas com que o Brasil vinha, por algumas das suas principais instituições oficiais de governo e de cultura — o Itamaraty, a Marinha, as academias —, procurando dissimular essa realidade. E sem nunca desprezar o que lhe vêm revelando suas pesquisas, suas indagações, sua curiosidade a respeito das origens, da formação, das possibilidades atuais e futuras do Brasil como sociedade e como cultura condicionadas, em grande parte, pela sua tropicalidade e pelo caráter mestiço da maioria dessa sociedade e do essencial nessa cultura, vem o autor procurando destacar, nessa formação, nessas origens, nessas possibilidades, além do positivo, o válido; e, além do válido, o valioso. Inclusive quanto ao aproveitamento de valores tropicais, desde o século XVI, pelo brasileiro pré-nacional continuado, desde o século XIX, pelo nacional.
Também quanto à relativa benignidade nas relações, no Brasil, entre os vários grupos étnico-culturais. São grupos que, interpenetrando-se, vêm concorrendo, através de considerável mobilidade social, quer horizontal, quer vertical, para favorecer, nesta parte da América, sob a forma de uma civilização moderna em ambiente tropical, uma democracia dinamicamente étnico-cultural com o mérito pessoal tendendo, cada vez mais, a superar desvantagens tanto de etnia quanto de classe que possam prejudicar indivíduos; sua ascensão social ou socioeconômica; a afirmação dos seus talentos; a utilização de suas possibilidades.
Daí a ênfase que o autor vem procurando dar, por um lado, ao fenômeno da ascensão dessa espécie de mestiços e, menos ostensivamente, de indivíduos e de grupos ainda de etnias puras e de condições cultural e socialmente desprestigiosas, agora já, em parte, reabilitadas: inclusive a própria condição de escravo; por outro lado, à crescente tropicalização — importando por vezes em africanização ou em amerindianização — de valores, de técnicas e de usos, na sociedade e na cultura brasileiras, provenientes de civilizações europeias e de que foram introdutores, no país, europeus