na maioria caucasoides com pretensões, alguns deles, a civilizadores absolutos de terras e de populações "inferiormente tropicais", situadas no espaço brasileiro.
Verifica-se, atualmente, no Brasil, uma revolução não só nos seus estudos sociológicos, crescentemente situacionais ou ecológicos, como à margem, ou fora desses estudos, no sentido da valorização do que, na sociedade e na cultura brasileiras, é tropical, ecológico, não europeu, inclusive com relação ao tempo. Essa valorização, entretanto, não importa em repúdio sistemático a valores e a técnicas de origens europeia, anglo-americana, japonesa, suscetíveis de ser combinados — quando possível — com os valores e as técnicas tropicais, ou de ser adaptados — quando impossível tal combinação — às condições brasileiras básicas de vivência e de convivência, que são as tropicais. De modo algum. Não é o Brasil de agora um país de gente antieuropeia. Não há, entre os brasileiros, nenhum movimento de sentido radicalmente antieuropeu. O que se verifica, talvez, na maioria deles, é um orgulho novo — e o orgulho dessa espécie é um daqueles componentes de situações sociais que, segundo Thomas já advertia, sobrepõem-se até à realidade — do que na etnia de muitos e na cultura de quase todos é tropical, não europeu e como que telúrico. Orgulho do que é tropical na sua morenidade de vários graus, na música de vários tipos — da de Villa-Lobos aos sambas de morro —, na sua culinária também múltipla: nos carurus e nos doces delicados tanto quanto nos rústicos quibebes e nas rudes paçocas. Orgulho de origens não europeias de etnias e de culturas: origens, outrora, escondidas ou dissimuladas por muitos. Orgulho também, da mesma espécie sociologicamente válida, do que supõem venham a ser projeções, no futuro, desses seus valores tropicais e mistos de agora que já começam, na verdade, a ser reconhecidos como importantes por estudiosos não tropicais do assunto: um Marston Bates, entre outros.
Escreveu de situações sociais o austríaco Alfred Schutz — citado por Peter L. Berger, no seu Invitation to Sociology, como "filósofo da escola fenomenológica" cuja obra, a ser breve publicada em língua inglesa, será, quando assim divulgada, um acontecimento intelectual — que cada situação — dessas, em que qualquer indivíduo-pessoa se encontre — é uma situação não só definida pelos seus contemporâneos como predefinida pelos seus predecessores. Pode-se acrescentar que é também uma situação por antecipação definida pelos pósteros: sobretudo tratando-se de sociedades e de culturas em desenvolvimento como as do Brasil: