com imenso futuro diante delas. Futuros mais amplos que seus passados socioculturais, embora esses não devam ser tidos como cronologicamente limitados pelo ano de 1500.
Se Fontenelle disse um dia serem os mortos mais poderosos do que os vivos em sua influência sobre uma sociedade ou uma cultura — conceito sistematizado pela sociologia filosófica de Augusto Comte —, é justo, entretanto, opor-se a essa generalização, até certo ponto sociologicamente válida, esta outra: que em sociedades e culturas em desenvolvimento é também considerável a influência dos pósteros sobre os contemporâneos; do tempo futuro sobre o atual. E dos trópicos o que mais se diz atualmente é que são as regiões do futuro; que o futuro humano está principalmente nos trópicos; que nos trópicos, quase virgens de civilização moderna, é de esperar-se que o homem civilizado e moderno se projete de modo surpreendentemente novo, tais as novas possibilidades de cultura a emergirem do seu encontro com essa ecologia quase desconhecida ou quase inexplorada.
Espaço ou ecologia, sobre o qual está grande parte do Brasil: aquela parte do todo brasileiro ainda por afirmar-se como expressão de um mundo — o situado no trópico — mais do futuro que do presente ou do passado, a admitirmos a divisão convencional do tempo em três tempos que, entretanto, só aparentemente serão assim distintos. Porque o que no Brasil é novo e o que será o futuro brasileiro não deixam de ser um novo e um futuro condicionados por uma reinterpretação de passados dos quais o brasileiro é parte; ou que são parte — juntamente com o tempo atual — do brasileiro. Pois o homem é tempo tanto quanto é espaço: sofre pressões de tempo quanto de espaço que o condicionam, embora não determinem seu ser ou — como diria um discípulo de Ortega — seu "estar sendo".
Os que reconhecemos a importância do passado — ou da tradição — no desenvolvimento de uma cultura, seja ela nacional ou transregional, podemos repetir, desse desenvolvimento, com o Professor Américo Castro: "Hay que hacerse con la propia historia, no dehacerse de ella frivolamente". Nenhuma sociedade consegue deitar no lixo a totalidade do seu passado para ser de todo nova e entregar-se de todo a um presente ou a um futuro considerados autônomos.
Precisamente a propósito daquela filosofia de história levantada por Américo Castro é que Miguel Enguidanos, em depoimento sobre sua própria experiência de espanhol com relação à Espanha — experiência que nele adquiriu intensidade dramática ao nascer como que de novo fora da Espanha —, escreveu, em